quinta-feira, 4 de julho de 2013

Saúde, corrupção e violência, os males do país são? (SIC)

O Datafolha detectou em pesquisa divulgada no dia 30 de junho de 2013 mudanças sensíveis nas expectativas da população em relação aos problemas brasileiros.

Uma análise superficial dos resultados divulgados sugere que os problemas de violência e segurança perderam espaço para problemas relacionados à saúde e à corrupção.

De fato, esses problemas são relevantes. Estamos em um país que ficou 300 anos como colônia ibérica, com fraco poder de Estado, explorado em suas riquezas naturais e com povoamento feito pela oportunidade de ganhos rápidos, sem risco ou planejamento.

Passamos para uma monarquia por golpe familiar de Estado e assistimos bestializados ao golpe de caserna que levou um marechal a ser presidente de uma "República Café com Leite".

Logo, problemas de violência e de saúde sempre foram e sempre serão relevantes. A corrupção é histórica e endêmica. Ela está retratada desde a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha, passa pelos favorecimentos da Corte a determinados nobres, escravismo, ouro e em exemplos seculares, como a falta de incentivo à inovação (basta ver o exemplo do Barão de Mauá) e à educação em todos os níveis.

Na minha opinião, nosso país é muito complicado.
De fato, a saúde está muito ruim. Precisamos de muito mais médicos, sobretudo no interior do país, nas periferias e tudo mais, a classe média usa pouco o SUS porque cansou de esperar por um atendimento digno e somos empurrados para planos de saúde, cada vez com pior qualidade e mais caros. Agora, isso tem um projeto finalístico (estar com "boa saúde" é ter qualidade de vida apropriada), mas não resolve os problemas desenvolvimento com sustentabilidade e inclusão social e produtiva em si. Poderemos até ter ótimos indicadores na área como Cuba e viver problemas sociais e econômicos em si.


O que me preocupa é que nunca se prioriza de fato a educação neste país. E aí, o elemento portador de futuro não se concretiza porque na alta elite não se prioriza educação (para ganhar $ você não precisa de educação...) e nas classes D e E, a maioria nunca teve acesso à educação de qualidade. Os estratos médios usam escolas particulares no nível básico e intermediário, disputando as universidades públicas no posterior. As universidades privadas têm em sua maioria qualidade questionável, apesar da melhoria do quadro docente e da manutenção das PUCs e de algumas faculdades de alto nível.

Logo, o país capenga em índices de violência, acidentes de trânsito, saúde e corrupção. Ninguém vai às causas, vai somente às consequências dos problemas sociais e econômicos. Os países que mais crescem no mundo atual basearam as suas estratégias de crescimento na educação e na inovação. Japão, Coréia e China investem fortemente em educação, desde o nível básico à pós-graduação, com resultados notórios desde os anos 1970. Honda, Sony, Mitsubishi e Matsushita são exemplos de políticas industriais associadas à priorização da educação pelos cidadãos e pelo país.

A Coréia, outro exemplo da "escola japonesa", ultrapassou o Brasil em indústria naval, tem chaebows como Samsung e Hyundai, tendo iniciado sua explosão econômica a partir dos anos 1980. Um país com menos de 100 milhões de habitantes tem montadoras e indústrias eletroeletrônicas. O Brasil, só montadoras...

A China, o novo e bem sucedido ator que utiliza esta estratégia entra no século XXI com forte exército industrial de reserva, equidade social básica propiciada por décadas de políticas sociais adequadas, crescendo seu PIB entre 5 e 10% a.a. e com forte investimento em educação, infraestrutura e pesquisa e desenvolvimento (P&D). Será que no Brasil ninguém nota isso?

E aí, a população reclama dos políticos, que eles não resolvem os seus problemas. O problema é que o cidadão demanda combate à corrupção e saúde. E poderá ter isso: combate à corrupção, escamoteada por medidas que serão superadas brevemente por corruptores e corruptos (artimanhas da corrupção são dinâmicas e são mais inovativas do que qualquer medida ou ação do Estado); a saúde terá um caminho longo a percorrer nas ações de prevenção, educação e na inovação, além da necessidade da interiorização dela para reduzir pressão nos grandes centros urbanos. Teremos aumento da expectativa de vida e melhoria dos indicadores de saúde. Porém, continuaremos sendo um gigante com pés de barro em um mundo globalizado e tecnologizado.

Assim, se não houver mudanças nas opiniões, a "qualidade total" da sociedade orienta a política (inclusive a pública) para varrer para debaixo do tapete os problemas crônicos e a chover no molhado em medidas de curto prazo.

O gigante acordou do berço esplêndido e continua sem educação...

O link para a notícia do Datafolha: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/06/1303674-para-quase-50-saude-e-o-maior-problema-do-pais.shtml