O que John Constantine pode ensinar ao Brasil?
Já havia escrito em texto encriptado o que acho da
conjuntura: "A Nanotecnologia, Voldemort e as Lavanderias: nós somos sujos, mas somos mentirosos?"
.
Diante de várias conversas com amigos e colegas, decidi
destrinchar um pouco mais do que acho sobre a situação atual de tudo...
Há alguns anos atrás, eu li um HQ de John Constantine, o
Hellblazer, de Alan Moore (ver um blog aqui.
Depois virou um filme (2005), porém ele não captou o episódio que acho
relevante para este post.
No HQ, Constantine lembra em aparência do cantor Sting. É um personagem
que combate demônios, tem conhecimentos de ocultismo e é um ser, digamos,
escroto. Arrogante, fumante e alcoólatra inveterado, uma verdadeira chaminé que
bebe, astuto, inteligente, mas insuportável. Tem sempre uma imagem de mistério,
uma neblina a la cinema francês nouvelle vague, dos anos 1950-60 em torno do personagem.
Ele é odiado no inferno. Matou muitos demônios e é um cara
de poucos amigos, no céu e no inferno. Porém, ele contrai naturalmente um
câncer no pulmão. Expelindo sangue, sabendo do seu fim próximo, Constantine
vende sua alma para três demônios, justamente os mais poderosos do inferno.
Como eles não sabiam disso entre si, quando Constantine estava
para morrer, os demônios entram em pânico. Quem vai ficar com a alma daquele desgraçado: Satã ou seus irmãos? Isso
geraria uma guerra no Inferno. Será que os Anjos não podem ataca-los no momento
do conflito e os derrota-los? O equilíbrio sistêmico do inferno estava em jogo.
Diante da dúvida, resta manter o status quo e curar
Constantine. O que é feito com muito ódio por um dos demônios, mas dá o retorno
da saúde e da vida para o anti-herói. E uma virtual imortalidade para o
personagem, que passa a ser protegido pelos Demônios, apesar de continuar a
combater demônios...
Voltando à conjuntura, diria que vivemos um contexto de
multipolaridade, onde há uma nova guerra fria liderada por dois blocos
antagônicos: um liderado pela China; outro liderado pelos EUA.
Os EUA, incontestáveis desde 1989, considerados a única
superpotência, viram um declínio econômico suave desde então. O crescimento
vertiginoso da China criou uma situação em que se gerou outro bloco: os BRICs. Além
disso, os EUA cometeram muitos erros nos últimos anos.
O primeiro, foi considerar que a prioridade de suas ações
era no Oriente Médio. Ao entrar no Iraque e no Afeganistão, os EUA procuravam
satisfazer suas demandas por petróleo e manter o controle sobre a região.
Isolaram o Irã e parecia que tudo estava sob controle. Ao mesmo tempo,
conseguiram desenvolver com bom retorno financeiro a extração de petróleo a
partir do xisto, o que garantiu ótimo fornecimento de hidrocarbonetos no
período. As perdas trilionárias e o desgate naquela região oriental talvez não
tenham compensado a campanha militar.
Ao fazer isso, deixaram a América Latina sem grande
influência ianque. O resultado foi que os países se desenvolveram mais e
mudaram sua orientação para os BRICs, UNASUL e até Mercosul. No Brasil, por
exemplo, os EUA deixaram de ser os maiores parceiros comerciais e a China
assumiu este posto.
Os recentes anúncios do Canal da Nicarágua, de maior profundidade
e calado do que o do Panamá, a instalação do Porto de Mariel, em Cuba e a
ferrovia que está sendo planejada para cruzar o Pacífico ao Atlântico na
América do Sul beneficiam um maior comércio exterior da China com a América
Latina.
A priorização do Brasil ao Mercosul, UNASUL e BRICs deixaram
os EUA de lado. Isso coincidiu com a recusa de visita de Dilma aos EUA, após as
denúncias do Wikileaks, em 2013. Nesse sentido, podemos dizer que os ianques
ficaram putos com o Brasil.
Parece que é hora de mudar isso. Sem dúvida, China e EUA
começam a desenhar suas áreas de interesse. China quer AL e África. Rússia
fechou acordos com a China, criou pacto de não agressão com o Império do Centro
e deslocou suas forças militares para o Oriente Médio e futuramente para a
Europa. Jamais esquecer da KGB, da qual Putin foi dirigente e do antigo
Exército Vermelho e de suas ogivas militares e satélites...
Os EUA estão saindo com suas tropas do Oriente Médio.
Deverão manter suas bases, mas tudo indica redução de intensidades de ação militar.
Parece que suas atenções se dirigem para a AL. O centro das ações passam a ser
no centro estratégico regional, o Brasil.
Logo, me parece salutar que façamos acordos com os dois
demônios. Para nos curar de eventuais problemas e sobretudo sobreviver em um
ambiente de multipolaridade. Saibamos que o Brasil realmente pende mais para os
BRICs. Porém, nossos parceiros antigos têm mais influência cultural e não estão
dispostos a serem destratados. Temos de ter mais cautela nisso, senão a
conjuntura não melhorará em curto e médio prazo.