domingo, 4 de outubro de 2015

O que John Constantine pode ensinar ao Brasil?

O que John Constantine pode ensinar ao Brasil?

Já havia escrito em texto encriptado o que acho da conjuntura: "A Nanotecnologia, Voldemort e as Lavanderias: nós somos sujos, mas somos mentirosos?"
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Diante de várias conversas com amigos e colegas, decidi destrinchar um pouco mais do que acho sobre a situação atual de tudo...
Há alguns anos atrás, eu li um HQ de John Constantine, o Hellblazer, de Alan Moore (ver um blog aqui. Depois virou um filme (2005), porém ele não captou o episódio que acho relevante para este post.
No HQ, Constantine lembra em aparência do cantor Sting. É um personagem que combate demônios, tem conhecimentos de ocultismo e é um ser, digamos, escroto. Arrogante, fumante e alcoólatra inveterado, uma verdadeira chaminé que bebe, astuto, inteligente, mas insuportável. Tem sempre uma imagem de mistério, uma neblina a la cinema francês nouvelle vague,  dos anos 1950-60 em torno do personagem.
Ele é odiado no inferno. Matou muitos demônios e é um cara de poucos amigos, no céu e no inferno. Porém, ele contrai naturalmente um câncer no pulmão. Expelindo sangue, sabendo do seu fim próximo, Constantine vende sua alma para três demônios, justamente os mais poderosos do inferno.
Como eles não sabiam disso entre si, quando Constantine estava para morrer, os demônios entram em pânico. Quem vai ficar com a alma  daquele desgraçado: Satã ou seus irmãos? Isso geraria uma guerra no Inferno. Será que os Anjos não podem ataca-los no momento do conflito e os derrota-los? O equilíbrio sistêmico do inferno estava em jogo.
Diante da dúvida, resta manter o status quo e curar Constantine. O que é feito com muito ódio por um dos demônios, mas dá o retorno da saúde e da vida para o anti-herói. E uma virtual imortalidade para o personagem, que passa a ser protegido pelos Demônios, apesar de continuar a combater demônios...
Voltando à conjuntura, diria que vivemos um contexto de multipolaridade, onde há uma nova guerra fria liderada por dois blocos antagônicos: um liderado pela China; outro liderado pelos EUA.









Os EUA, incontestáveis desde 1989, considerados a única superpotência, viram um declínio econômico suave desde então. O crescimento vertiginoso da China criou uma situação em que se gerou outro bloco: os BRICs. Além disso, os EUA cometeram muitos erros nos últimos anos.
O primeiro, foi considerar que a prioridade de suas ações era no Oriente Médio. Ao entrar no Iraque e no Afeganistão, os EUA procuravam satisfazer suas demandas por petróleo e manter o controle sobre a região. Isolaram o Irã e parecia que tudo estava sob controle. Ao mesmo tempo, conseguiram desenvolver com bom retorno financeiro a extração de petróleo a partir do xisto, o que garantiu ótimo fornecimento de hidrocarbonetos no período. As perdas trilionárias e o desgate naquela região oriental talvez não tenham compensado a campanha militar.
Ao fazer isso, deixaram a América Latina sem grande influência ianque. O resultado foi que os países se desenvolveram mais e mudaram sua orientação para os BRICs, UNASUL e até Mercosul. No Brasil, por exemplo, os EUA deixaram de ser os maiores parceiros comerciais e a China assumiu este posto.
Os recentes anúncios do Canal da Nicarágua, de maior profundidade e calado do que o do Panamá, a instalação do Porto de Mariel, em Cuba e a ferrovia que está sendo planejada para cruzar o Pacífico ao Atlântico na América do Sul beneficiam um maior comércio exterior da China com a América Latina.
A priorização do Brasil ao Mercosul, UNASUL e BRICs deixaram os EUA de lado. Isso coincidiu com a recusa de visita de Dilma aos EUA, após as denúncias do Wikileaks, em 2013. Nesse sentido, podemos dizer que os ianques ficaram putos com o Brasil.
Parece que é hora de mudar isso. Sem dúvida, China e EUA começam a desenhar suas áreas de interesse. China quer AL e África. Rússia fechou acordos com a China, criou pacto de não agressão com o Império do Centro e deslocou suas forças militares para o Oriente Médio e futuramente para a Europa. Jamais esquecer da KGB, da qual Putin foi dirigente e do antigo Exército Vermelho e de suas ogivas militares e satélites...
Os EUA estão saindo com suas tropas do Oriente Médio. Deverão manter suas bases, mas tudo indica redução de intensidades de ação militar. Parece que suas atenções se dirigem para a AL. O centro das ações passam a ser no centro estratégico regional, o Brasil.

Logo, me parece salutar que façamos acordos com os dois demônios. Para nos curar de eventuais problemas e sobretudo sobreviver em um ambiente de multipolaridade. Saibamos que o Brasil realmente pende mais para os BRICs. Porém, nossos parceiros antigos têm mais influência cultural e não estão dispostos a serem destratados. Temos de ter mais cautela nisso, senão a conjuntura não melhorará em curto e médio prazo.