quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

As novas tecnologias e seu impacto no mundo da música pop – Do Heavy Metal dos Tiozinhos às Nuvens...

 


Este texto é derivado de um misto de diversão, explicações de coisas da vida e até um pouco de elucubrações sobre a política de inovação no Brasil. Aqui se faz um encontro de experiências vividas desde a adolescência até um contexto em que nos encontramos no Brasil e no Mundo. Não é um texto que serve para tudo (como se isso fosse possível na Humanidade... rs), mas é uma reflexão para quem está num mundo cada vez mais padronizado, estandardizado e formatado para termos não somente um tipo de ser humano, mas um conjunto de modelos toyotizados[1], com cores, tipos de energias, orientações sexuais, tipos de diversão e formatos de preferências já conhecidas pelo Mercado. Nesse sentido, esse texto trabalha com algo que vivi no século XX e hoje aparentemente estagnou: o rock.

Esse processo não interrompeu a criação de novas bandas, ritmos, mesclagens e a criatividade humana no rock do século XXI. Contudo, as famigeradas gravadoras “desapareceram”. Elas eram evidentes, explícitas, como as marcas de um automóvel, um cigarro ou um alimento no século passado. Hoje em dia, contudo, elas aparecem discretamente, os mecanismos de gestão, controle e planejamento delas se tornaram discretas, implícitas, quase ocultas... 

Onde estão as gravadoras? O que aconteceu com elas? Estão felizes, tristes, entediadas? E o que aconteceu com as novidades? Por que a banda XYZW sumiu? Que tribo esquisita é aquela que nunca ouvi falar? O rock finalmente está morto, enterrado e desencarnado?

Outro dia estava numa rede social e um tiozinho do Metal[2] falou algo que tinha pensado algumas vezes e decidi escrever sobre isso. Ele afirmou que as novas tecnologias tinham estragado o barato do que havia sido o rock, sobretudo quando não havia a internet. E achei que isso faz sentido. Concordo com ele. Até porque sou tiozinho... kkkk!

Além disso, darei um toque sobre o HM brasileiro e as políticas de inovação. Teclarei algo sobre os inventores do HM brasileiro, não anglo-saxão e que de certa forma influenciaram dezenas de bandas mundo afora: o Sepultura (isso é na verdade algo que teclarei mais em outro artigo, discutindo as questões mais adequadamente... rs).

Aqui começamos no passado, discutindo o que foi que ficou no século XX...

Em algum lugar no século passado...

(Tiozinho do Metal contando histórias... senta que lá vem estória!)

Comecei a curtir música pop no final dos anos 70 em Sampa. As rádios AM tinham forte presença e divulgavam desde a MPB, passando pela música brega, pela MPB (Chico, Caetano, Gil, etc) e chegando à Discotheque (os embalos de sábado à noite...). A TV Cultura tinha o Som Pop e mostrava os primórdios do que seriam os videoclipes, além de shows e outros. Todo Domingo (Titãs) tinha o programa Silvio Santos e para fechar, o programa Fantástico, com novas músicas lançadas.

Os meios de comunicação bombavam o esquema das gravadoras de LPs. As rádios FM divulgavam os sucessos por período, o que acontecia na música pop anglo-saxã, mesclado ao pop brasileiro. Havia revistas, jornais e uma divulgação na TV dos primórdios daquilo que seriam os videoclipes, que estão em voga até hoje. Os long-plays (LP), rotação 33 rpm, as bolachas, eram o formato dominante da música, além da fita K7, vendida pronta ou gravada. Os “demônios” do mercado comandavam o que se podia ouvir e não ouvir, o que era audível (ouvivel... rs) e o que era proibido, desprezado, o que não era comercial.

O auge foi nos anos 80. Cindy Lauper, Duran Duran, Michael Jackson, break, new wave, Commodores, Lionel Ritchie, Madonna, Queen, entre outros, passavam pelas paradas ianques, britânicas e chegavam ao Brasil pelas FMs e pela TV. O climax se deu com o Pop, o break de Michael Jackson (MJ), com muito sucesso nas paradas e dezenas de milhões de LPs vendidos mundo afora, com uma febre de dança break, afroianque em todos os lugares do planeta. Isso passava pela TV, jornais, revistas, pelos comerciais e pela rádio FM. As grandes gravadoras eram as deusas ou os demônios daquilo que podia ou não ser ouvido... rs A indústria cultural viveu o ápice fordista-taylorista, produção em larga escala de um produto estandardizado em escala mundial ...

O Heavy Metal (HM)  tinha fãs no Brasil, mas era exceção à regra, era undergrounds[3] (nadando contra a corrente, Cazuza) e minoritários entre os roqueiros, que eram filhos dos anos 60 ou do rock progressivo. Ou seja, minoria da minoria, completamente fora do mainstream e patinho feio, inaudível, barulhento, de mau gosto. Feios, sujos e malvados...

O HM chegou ao Brasil com a vinda do Kiss, de certa forma com o Queen (progressivo e pop rock de alta qualidade) e finalmente com o Rock in Rio 1985, o primeiro grande festival de música pop no Brasil, com artistas grandes do HM, como Whitesnake, Scorpions, Iron Maiden e o Ozzy Osbourne. Ali o ambiente underground alcançou atenção e se popularizou no Brasil, sobretudo em São Paulo. Daí me envolvi com algo que não é tocado nas rádios, não tem muitos meios de comunicação, é renegado pelas grandes gravadoras e é deixado de lado pela máquina do “mainstream”, em crise com o padrão fordista de produção.

O HM analógico, assim como o underground, exigia presença física dos ouvintes, fãs e membros de banda em um local em que as pessoas se encontravam. As pessoas se encontravam em pubs, lojas de discos, shows e num ambiente em que podiam trocar ideias, sons, fotos, letras de música e números de telefone para montarem bandas. Não ter a divulgação forçava o contato pessoal e social. Havia em Sampa, nos anos 80, a Galeria do Rock e lojas de discos de metal, a Woodstock, do Walcyr Challas. Tinham headbangers, heavies, metaleiros, punks, roqueiros de segunda a sábado, mas o ponto maior de concentração era no sábado de manhã. E o povo se encontrava lá, presencialmente, no centro de Sampa.


Fonte: https://www.collectorsroom.com.br/2016/01/woodstock-discos-loja-fundamental-para_26.html

 

Conversavam, trocavam ideias, ouviam sonzeiras e, às vezes, presenciavam a chegada de um álbum importado que não chegava ao Brasil. Tipo o álbum “Master of Puppets”, do Metallica, que ouvi pela primeira vez na Woodstock Discos, do Walcyr Challas (que era o DJ/apresentador do “Comando Metal”, da 89 FM...), início de 1986... A WEA não quis prensar as bolachas do álbum no Brasil e ele chegou por discos importados, piratas, fitas gravadas e apresentação nas lojas de rock. As tribos se formavam: heavies, headbangers, thrashers, punks, hardcores, gothics, etc. O underground fazia o que o mainstream negava ou omitia. O barato era ser alternativo, não ser do mercado, ouvir algo que não foi permitido e que era ignorado pelos meios de comunicação.

 Grupo de pessoas lado a lado

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Do outro lado do Vale do Anhangabaú, entre a 24 de maio e o Largo do Paissandu, uma antiga galeria ganhou um outro ecossistema de inovação cultural, surgido após crise econômica, nos anos 80, contando com funkeiros, breakers (ancestrais dos rappers), tatuadores, bares, lojas em geral e alguns andares dedicados ao rock. Conhecida como Galeria do Rock, ela é uma atração turística que até hoje conta com lojas de discos, moda, skates e atitudes múltiplas. Ela ainda congrega pessoas para passar por lá, ver vitrines, tomar um chopp, se tatuar ou compra camisetas, CDs, LPs. Ainda lembra um ecossistema de inovação, agora plugado no celular, na internet e busca de algo perdido: o underground.


No underground analógico não havia internet. O som só se encontrava em LPs, fitas K7, vídeos cassete, rádios, TVs abertas, nos shows. As grandes gravadoras não traziam os álbuns de metal ou punk para o Brasil porque não achavam conveniente e “vendável”.  A música pop não permitia sonzeiras... Logo, havia discos piratas, discos importados (caríssimos) e muitos álbuns chegavam em cópia única para o dono da loja. Surgiu a MTV em algum momento. A pirataria rolava solta e divulgava de tudo, tornando popular coisas como o thrash metal, o punk, o black metal, o hardcore em São Paulo e no Brasil. A organização da produção cultural do underground acontecia presencialmente, com forte interação entre as pessoas.

O pessoal que comprava discos piratas vendia fitas k7 piratas. Era um comércio importante e o underground acontecia por ali... A gente conhecia o que tinha de novidades conversando com o povo das lojas, com os heavies e lendo recortes de revistas do mundo tudo. Era comum as pessoas terem pastas com letras, artigos e fotos de membros da banda e que podiam ser trocados... comunicação horizontal pura. Alguns carinhas vinham até de outros estados para conhecer sonzeiras, trocar ideias e comprar LPs para revender fitas k7 e comprar instrumentos musicais. Tipo, uns caras doidos de BH (MG), os irmãos Cavalera...

Na Galeria do Rock uma grande quantidade de lojas, vendendo roupas, fazendo tatuagens e muita conversa. Até namoro, mas na época havia mais homens do que mulheres no underground. Era um happening homo social [4]... Isso mudou no século XXI, mas naquela época havia mulheres em minoria, meninas e o flerte também ocorria em meio a um ambiente predominantemente masculino... E, claro, homossexual, como depois foi consentido pela declaração do líder e vocalista do Judas Priest, Rob Halford e reduziu a homofobia no HM[5]. A atividade era predominantemente homo social nos anos 80 e teve aumento da participação feminina nos anos seguintes. Até que se tornou universal atualmente, forte presença das mulheres na plateia e no palco.

As bandas eram formadas por procuras em anúncios nas paredes da Galeria e na conversa das pessoas. Via-se muitos membros de banda rodando por ali e o ecossistema de inovação cultural era grande e com muitas roupas pretas, jaquetas e um visual de heavies, metaleiros, headbangers e alguns punks e hardcores.

Havia algumas rádios que estavam no dial e davam algum destaque ao metal. A Rádio 97, do ABC Paulista, foi uma das primeiras. Depois veio a 89, a Brasil 2000 e a rádio Kiss FM. O aumento da presença do hard rock, do metal e do punk foi crescente desde então e teve papel em São Paulo. No Rio, a Fluminense teve destaque, assim como as revistas Roll e Metal. Shows de metal rolaram com dificuldades e não estávamos no circuito mundial. Venom, Exciter, Metallica, Hollywood Rock e outros shows e festivais rolaram, mas eram poucos. O HM foi chegando ao Brasil, com dificuldades, mas o underground foi chegando e os albuns começaram a chegar pouco a pouco e a galera foi crescendo no país.

Em Sampa, as revistas Rock Brigade e a Bizz sobressaíam e deram mais destaque ao HM e ao thrash metal. Metallica, Slayer, Venom estavam no radar paulistano e influenciaram os irmãos mineiros Cavalera, do Sepultura, a maior banda HM brasileira. Angra, da NWOBHM[6], entre outras, representavam outros cenários. O underground fez a diferença naquilo que era comercial e ditado pelas grandes gravadoras, com a produção de bandas como Mamonas Assassinas, Chico Science, RDP, Raimundos, Racionais MCs e outras. O controle sobre o “sucesso” tinha uma relativa autonomia e não acontecia somente no mainstream... O mundo analógico antes do chip novo citado no início, em forma de pílula azul (ou vermelha) não haviam sido tomados, engolidos. O ódio contra a máquina sobrevivia...

O Metallica criou um caso à parte. Não é somente se vender, mas conquistar o mundo.  Na contracapa do Ride The Lightning e do Master of Puppets esta declaração é feita.  Eles são fodas e sabiam disso. Guns and Roses, Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, o Grunge, representam também o underground de Seattle, chegando ao mainstream e vendendo dezenas de milhões de álbuns, com gigantescos festivais e audiências. Estaria tudo dominado? Por quem?

E houve uma oferta da indústria cultural, de vender dezenas de milhões de álbuns, pós Michael Jackson, em uma transição para o toyotismo para a banda surgida no underground da Bay Area, San Francisco, California. Uma oferta de transição entre a fase das grandes gravadoras e a nova fase da indústria cultural.  E eles se tornaram um dos maiores vendedores de álbuns do planeta, do clube dos bilionários. A família Metallica pertence a um clube seleto de pessoas ricas no planeta Terra. Santos protetores contra o Napster...

Ficaram conhecidos por centenas de milhões de pessoas, senão bilhões e entraram no Hall of the Fame, tendo várias vendagens altas registradas na Billboard. A música “Enter Sandman” bateu mais de um bilhão de acessos na internet. E é a banda que fez o melhor thrash metal terráqueo, uma das maiores do heavy metal na história. Agora no Mainstream, como de certa forma Led, Purple ou Sabbath estiveram, mas não com toda a máquina analógica operando à frente... A era digital é discreta e eficiente.

Um fenômeno que ocorreu foi o obscurecimento da presença das gravadoras, conglomerados transnacionais que antes eram os vilões da História. Lembro da voz do Chappelin, da Globo: “aonde foram, o que fazem, como procedem, o que ocorre? Fantástico”!

Pois é. Numa conversa com um pós-graduando em Música Popular na UNICAMP num Bla-bla-Car nos anos 2010, isso forçou a minha queda de fichas. A internet consegue por impulsionamento ou orientação bloquear a entrada de novas bandas na rede e orienta por escala para determinadas bandas e dificulta a existência de um underground ativo. Dá a impressão de que não há nada de novo na Música, assim como ocorria com o bloqueio das rádios e da mídia antigamente. Agora isso é feito por impulsionamento digital e que gera nuvens de fãs para um estilo ou artista. Como a dos tiozinhos do metal, do metal gótico, do pop, do punk, do funk... São nuvens distintas, até em faixas etárias... E tudo fica dominado, sem ser percebido pelos fãs, que não se dão conta de que as relações sociais foram subordinadas à internet e às redes sociais.

Ninguém aparece como autor, protagonista. Simplesmente somem as alternativas. Só que agora não aparece interventor, a gravadora, a vilã. Tudo parece natural, espontâneo, como se não houvesse nada de novo surgindo. O underground virou missão para hacker, cracker e as rotinas mudam periodicamente, escamoteando novas coisas... Tem que ser um terrorista de rede para surfar nas ondas de novidades... rs

E tem de reinventar uma organização da produção cultural que se coloque presencialmente nos antigos locais. As relações sociais têm de ser reinventadas, talvez retornando com coisas e fazendo surgir novas ondas. O underground tem de ressurgir e isso implica em sair da zona de conforto. Ou seja, sair de casa, conversar, trocar fotos, mensagens, ideias, talvez presencialmente...

 

Sobre o HM brazuca: existe?

 

Sim, existe. O HM brazuca é antigo. Desde os anos 1970 surgiram bandas importantes que desbravaram o cenário nacional.

Nos anos 80 isso também não foi pequeno. Teve álbuns feitos pela loja Baratos Afins (https://www.baratosafins.com.br/produto/sp-metal-sp-metal-2-2022-04-19-12-53-32.html), da Galeria do Rock, teve shows, etc.

Bandas como Sarcófago (BH, MG), Dorsal Atlântica (Rio), Vulcano (Santos), Korzus, Performances, Salário Mínimo, podem ser citadas. Angra, com o vocalista André Matos e Sepultura, com os irmãos Cavalera, são destaques mundiais. No punk sempre ressalto o Ratos de Porão (RDP), além de várias outras como o Cólera.

Uma inovação que se deve ressaltar foi a mudança do Sepultura para um crossover forte com o RDP e, de fato, fazer uma síntese entre o punk, o hardcore e o HM: um death metal que se torna cada vez mais um metal que fala do demônio, do macabro e pula para letras críticas, com músicas influenciadas pelo punk/hardcore e profundamente underground algo que se torna cada vez mais uma crítica social e com posições progressistas no início dos anos 90, assim como os Titãs e o Legião Urbana. Cantando em inglês, o Sepultura transcende o Brasil e chega ao mundo. Como Herbert Vianna, do Paralamas do Sucesso ressaltou, a banda de thrash metal aparece até em pixações na Escócia. Os brasileiros exportam HM para o planeta.

Em toda a discografia dos anos 90, os carinhas surgidos de uma dupla de BH que comprava LPs na Woodstock e circulavam pela Galeria do Rock, começaram a abordar os problemas brasileiros: fome, miséria, Amazonia, ditadura militar, etc. E em 1996 façam um album paradigmático: o Roots. Chegam às raízes brasileiras, gravando músicas com tribo indígena Xavante, com a música baiana com percussão a la Olodum, com Carlinhos Brown e batidas que já existiam nos álbuns anteriores, de samba e carnaval. Algo que somente um brasileiro poderia fazer marca aquilo que somente uma banda/músico daquele país poderia fazer. Exemplos são comuns, como na França (Gojira), Itália (Lacuna Coil), Hungria (Ektomorf), Escandinávia (várias), Japão (várias), entre outros.

Uma orientação vetorial para o comércio exterior a ser seguido por brasileiros até em outras cadeias produtivas... rs Mas isso vamos discutir em outro artigo... rs

Para os tiozinhos do Metal, o disco parece que está empenado, rodando em guia fixa, pulando e voltando. São as bandas dos idosos que comandam o mainstream e aparenta não haver nada de novo. As saudades do underground da Galeria do Rock, da rua do Hospício (Recife) ficam no imaginário saudosos, sem renovação. E aquela fala típica dos saudosos: “como era bom no passado, não tem nada de novo agora, só cópias mal feitas daquilo que tinha no século XX”. Dentro da nuvem dos tiozinhos não se percebe as outras nuvens existentes e nem como são as novas armas e ferramentas para conhecer coisas novas. Muitos ficarão vivendo do passado. Outros poderão se incomodar... e mudar. Mas como?

Enfim... O que fazer?

 

O universo digital é sempre uma caixinha de surpresas. Sempre há alguma coisa de impulsionamentos, que levam o Google, Youtube, Facebook, Instagram, Spotify, entre outros.

A tecnologia tem pelos menos três dimensões: hardware, software, orgware.

O hardware, como comentado anteriormente era de LPs, K7s, VK7, rádios, vídeos (clips), shows, canais de TV, entre outros. A partir dos anos 90, entra a internet e nos anos 2000, as redes sociais. E além dos aparelhos de som, TVs, casas noturnas, shows, tem-se agora o aparelho celular, que serve de rádio, câmera de fotos/vídeos, internet, redes sociais. O velho Graham Bell foi pro espaço e se criou uma espécie de computador de mão, versátil e que coloca as gravadoras (sic) na mão... No futuro você receberá dicas de bandas que você não conhece, mas gostará e algumas serão de inteligência artificial... kkkk!

O software está entrelaçado com o orgware. São os programas digitais contidos na internet, nas redes, nos celulares, notebooks, TVs e que ajudam a coordenar o que, onde e quando se poderá ouvir um som. A gestão é sempre do fantasma da gravadora, mas há sempre sombras undergrounds que serão sugeridas. Ou não. Fica ao gosto do headbanger...

O orgware, a organização da produção, é uma questão complexa Ele é sempre algo que foi muito afetado na transição do analógico para o digital. O fordismo taylorismo tinha como ideal fazer de um usuário um macaco amestrado, que separa a concepção da execução, o trabalho intelectual do manual. O que isso tem a ver? É que o underground da Galeria do Rock tinha mais interações humanas. Tinha pastas com recortes de membros de bandas, letras, notícias, tinha fita k7 pirata e contatos de telefones e cartazes de shows ou de bandas que precisavam de novos integrantes. Isso passou para o universo digital, mas com menos interação presencial. Esse é o nó crítico do underground: o que fazer?


 



[1] Pânico no sistema alguém me reconfigurou (or something like that...). Pitty, Admirável Chip Novo.

[2] Tiozinho do Metal era uma expressão utilizada nas redes sociais (sobretudo Facebook) para indicar pessoas que gostaram de metal nos anos 1980. Pessoas que viveram o Rock in Rio, os shows do Kiss, a Galeria do Rock, o início das bandas Sepultura, Sarcófago, Vulcano, Viper, entre outras. Que vivem a transição do século XXI na velha guarda dos sons e ficaram parados no tempo, reclamando da sonzeira atual...

[3] O objetivo desse texto é fazer algo informal, não tão acadêmico, “tranquilão”. Contudo, caiu a minha ficha de que “underground” não é debaixo da terra. É alguém que não é comercial, não toca na rádio, não tem ultra-exposição de mídia, como ocorria até os anos 90... Dentro do ecossistema underground, há uma pluralidade de visões entre os de “raiz”, os que são críticos ao mainstream, àqueles que já foram e conservam algo do passado e os caras que defendem o mainstream, por assim dizer (tipo as bandas dos tiozinhos e o pop punk, por exemplo). É uma fauna a ser pensada e classificada num texto sisudo, sério, acadêmico... rs!

[4] Grant, Judith. Os garotos interrompidos. O drama do vínculo masculino em Some Kind of Monster. In Metallica e a Filosofia: um curso intensivo de cirurgia cerebral. São Paulo, Madras, 2008.

[5] O visual do Judas Priest, com motos estradeiras, correntes, cordões, braceletes e adereços de couro e pretos faziam parte do visual daquela banda HM e de certa forma faziam parte do visu de uma galera LGBT, que não era muito relacionada a tudo isso. Rob Halford, líder e vocalista da banda, gerou um efeito mais do que positivo no universo HM ao declarar publicamente sua orientação sexual porque desfez a posição homofóbica entre os metaleiros, headbangers.

[6] A New Wave of British Heavy Metal ocorreu no cenário britânico do HM. Houve um choque dialético entre as bandas tradicionais, como Black Sabbath, Deep Purple ou Led Zeppelin, o rock progressivo, as bandas dos anos 1960 e o movimento punk. Do debate, da pancadaria, surgiu a Reação: os punks diziam que qualquer um poderia tocar, cantar, fazer letras, não estavam no pedestal. Era o “Do it yourself”, uma espécie da Paulo Freire do Rock... rs E a a NWOBHM (Iron Maiden, Saxon, Judas, entre outros) pregavam a manutenção do Rock e do HM. Dialeticamente, tese (NWOBHM), antítese (punk) e síntese (o que? Thrash?)... 

Sobre o Iron Maiden e o NWOBHM

https://igormiranda.com.br/2024/01/iron-maiden-thunderstick-nao-achava-banda-seria-grande/?fbclid=IwAR106rqqitKfOmjDP5gBhWpQ0dI92eiCak9XXSi4B999fokfdfccI8BWXnU