Este texto é derivado de um misto de diversão, explicações
de coisas da vida e até um pouco de elucubrações sobre a política de inovação
no Brasil. Aqui se faz um encontro de experiências vividas desde a
adolescência até um contexto em que nos encontramos no Brasil e no Mundo. Não é
um texto que serve para tudo (como se isso fosse possível na Humanidade... rs),
mas é uma reflexão para quem está num mundo cada vez mais padronizado,
estandardizado e formatado para termos não somente um tipo de ser humano, mas
um conjunto de modelos toyotizados[1],
com cores, tipos de energias, orientações sexuais, tipos de diversão e formatos
de preferências já conhecidas pelo Mercado. Nesse sentido, esse texto trabalha
com algo que vivi no século XX e hoje aparentemente estagnou: o rock.
Esse processo não interrompeu a criação de novas bandas, ritmos, mesclagens e a criatividade humana no rock do século XXI. Contudo, as famigeradas gravadoras “desapareceram”. Elas eram evidentes, explícitas, como as marcas de um automóvel, um cigarro ou um alimento no século passado. Hoje em dia, contudo, elas aparecem discretamente, os mecanismos de gestão, controle e planejamento delas se tornaram discretas, implícitas, quase ocultas...
Onde
estão as gravadoras? O que aconteceu com elas? Estão felizes, tristes,
entediadas? E o que aconteceu com as novidades? Por que a banda XYZW sumiu? Que
tribo esquisita é aquela que nunca ouvi falar? O rock finalmente está morto,
enterrado e desencarnado?
Outro dia estava numa rede social e um tiozinho do Metal[2]
falou algo que tinha pensado algumas vezes e decidi escrever sobre isso. Ele
afirmou que as novas tecnologias tinham estragado o barato do que havia sido o
rock, sobretudo quando não havia a internet. E achei que isso faz sentido.
Concordo com ele. Até porque sou tiozinho... kkkk!
Além disso, darei um toque sobre o HM brasileiro e as
políticas de inovação. Teclarei algo sobre os inventores do HM brasileiro, não
anglo-saxão e que de certa forma influenciaram dezenas de bandas mundo afora: o
Sepultura (isso é na verdade algo que teclarei mais em outro artigo, discutindo
as questões mais adequadamente... rs).
Aqui começamos no passado, discutindo o que foi que ficou no
século XX...
Em algum lugar no século passado...
(Tiozinho do Metal contando histórias... senta que lá
vem estória!)
Comecei a curtir música pop no final dos anos 70 em Sampa.
As rádios AM tinham forte presença e divulgavam desde a MPB, passando pela
música brega, pela MPB (Chico, Caetano, Gil, etc) e chegando à Discotheque (os
embalos de sábado à noite...). A TV Cultura tinha o Som Pop e mostrava os
primórdios do que seriam os videoclipes, além de shows e outros. Todo Domingo
(Titãs) tinha o programa Silvio Santos e para fechar, o programa Fantástico,
com novas músicas lançadas.
Os meios de comunicação bombavam o esquema das gravadoras de
LPs. As rádios FM divulgavam os sucessos por período, o que acontecia na música
pop anglo-saxã, mesclado ao pop brasileiro. Havia revistas, jornais e uma
divulgação na TV dos primórdios daquilo que seriam os videoclipes, que estão em
voga até hoje. Os long-plays (LP), rotação 33 rpm, as bolachas, eram o formato
dominante da música, além da fita K7, vendida pronta ou gravada. Os “demônios”
do mercado comandavam o que se podia ouvir e não ouvir, o que era audível
(ouvivel... rs) e o que era proibido, desprezado, o que não era comercial.
O auge foi nos anos 80. Cindy Lauper, Duran Duran, Michael
Jackson, break, new wave, Commodores, Lionel Ritchie, Madonna, Queen, entre
outros, passavam pelas paradas ianques, britânicas e chegavam ao Brasil pelas
FMs e pela TV. O climax se deu com o Pop, o break de Michael Jackson (MJ), com
muito sucesso nas paradas e dezenas de milhões de LPs vendidos mundo afora, com
uma febre de dança break, afroianque em todos os lugares do planeta. Isso
passava pela TV, jornais, revistas, pelos comerciais e pela rádio FM. As
grandes gravadoras eram as deusas ou os demônios daquilo que podia ou não ser
ouvido... rs A indústria cultural viveu o ápice fordista-taylorista, produção
em larga escala de um produto estandardizado em escala mundial ...
O Heavy Metal (HM)
tinha fãs no Brasil, mas era exceção à regra, era undergrounds[3]
(nadando contra a corrente, Cazuza) e minoritários entre os roqueiros, que eram
filhos dos anos 60 ou do rock progressivo. Ou seja, minoria da minoria,
completamente fora do mainstream e patinho feio, inaudível, barulhento, de mau
gosto. Feios, sujos e malvados...
O HM chegou ao Brasil com a vinda do Kiss, de certa forma
com o Queen (progressivo e pop rock de alta qualidade) e finalmente com o Rock
in Rio 1985, o primeiro grande festival de música pop no Brasil, com artistas
grandes do HM, como Whitesnake, Scorpions, Iron Maiden e o Ozzy Osbourne. Ali o
ambiente underground alcançou atenção e se popularizou no Brasil, sobretudo em
São Paulo. Daí me envolvi com algo que não é tocado nas rádios, não tem muitos
meios de comunicação, é renegado pelas grandes gravadoras e é deixado de lado
pela máquina do “mainstream”, em crise com o padrão fordista de produção.
O HM analógico, assim como o underground, exigia presença
física dos ouvintes, fãs e membros de banda em um local em que as pessoas se
encontravam. As pessoas se encontravam em pubs, lojas de discos, shows e num
ambiente em que podiam trocar ideias, sons, fotos, letras de música e números
de telefone para montarem bandas. Não ter a divulgação forçava o contato
pessoal e social. Havia em Sampa, nos anos 80, a Galeria do Rock e lojas de
discos de metal, a Woodstock, do Walcyr Challas. Tinham headbangers, heavies,
metaleiros, punks, roqueiros de segunda a sábado, mas o ponto maior de
concentração era no sábado de manhã. E o povo se encontrava lá, presencialmente,
no centro de Sampa.
Fonte: https://www.collectorsroom.com.br/2016/01/woodstock-discos-loja-fundamental-para_26.html
Conversavam, trocavam ideias, ouviam sonzeiras e, às vezes,
presenciavam a chegada de um álbum importado que não chegava ao Brasil. Tipo o
álbum “Master of Puppets”, do Metallica, que ouvi pela primeira vez na
Woodstock Discos, do Walcyr Challas (que era o DJ/apresentador do “Comando
Metal”, da 89 FM...), início de 1986... A WEA não quis prensar as bolachas do
álbum no Brasil e ele chegou por discos importados, piratas, fitas gravadas e
apresentação nas lojas de rock. As tribos se formavam: heavies, headbangers,
thrashers, punks, hardcores, gothics, etc. O underground fazia o que o
mainstream negava ou omitia. O barato era ser alternativo, não ser do mercado,
ouvir algo que não foi permitido e que era ignorado pelos meios de comunicação.
No underground analógico não havia internet. O som só se
encontrava em LPs, fitas K7, vídeos cassete, rádios, TVs abertas, nos shows. As
grandes gravadoras não traziam os álbuns de metal ou punk para o Brasil porque
não achavam conveniente e “vendável”. A
música pop não permitia sonzeiras... Logo, havia discos piratas, discos
importados (caríssimos) e muitos álbuns chegavam em cópia única para o dono da
loja. Surgiu a MTV em algum momento. A pirataria rolava solta e divulgava de
tudo, tornando popular coisas como o thrash metal, o punk, o black metal, o
hardcore em São Paulo e no Brasil. A organização da produção cultural do
underground acontecia presencialmente, com forte interação entre as pessoas.
O pessoal que comprava discos piratas vendia fitas k7
piratas. Era um comércio importante e o underground acontecia por ali... A
gente conhecia o que tinha de novidades conversando com o povo das lojas, com
os heavies e lendo recortes de revistas do mundo tudo. Era comum as pessoas
terem pastas com letras, artigos e fotos de membros da banda e que podiam ser
trocados... comunicação horizontal pura. Alguns carinhas vinham até de outros
estados para conhecer sonzeiras, trocar ideias e comprar LPs para revender
fitas k7 e comprar instrumentos musicais. Tipo, uns caras doidos de BH (MG), os
irmãos Cavalera...
Na Galeria do Rock uma grande quantidade de lojas, vendendo
roupas, fazendo tatuagens e muita conversa. Até namoro, mas na época havia mais
homens do que mulheres no underground. Era um happening homo social [4]...
Isso mudou no século XXI, mas naquela época havia mulheres em minoria, meninas
e o flerte também ocorria em meio a um ambiente predominantemente masculino...
E, claro, homossexual, como depois foi consentido pela declaração do líder e
vocalista do Judas Priest, Rob Halford e reduziu a homofobia no HM[5].
A atividade era predominantemente homo social nos anos 80 e teve aumento da
participação feminina nos anos seguintes. Até que se tornou universal
atualmente, forte presença das mulheres na plateia e no palco.
As bandas eram formadas por procuras em anúncios nas paredes
da Galeria e na conversa das pessoas. Via-se muitos membros de banda rodando
por ali e o ecossistema de inovação cultural era grande e com muitas roupas
pretas, jaquetas e um visual de heavies, metaleiros, headbangers e alguns punks
e hardcores.
Havia algumas rádios que estavam no dial e davam algum
destaque ao metal. A Rádio 97, do ABC Paulista, foi uma das primeiras. Depois
veio a 89, a Brasil 2000 e a rádio Kiss FM. O aumento da presença do hard rock,
do metal e do punk foi crescente desde então e teve papel em São Paulo. No Rio,
a Fluminense teve destaque, assim como as revistas Roll e Metal. Shows de metal
rolaram com dificuldades e não estávamos no circuito mundial. Venom, Exciter,
Metallica, Hollywood Rock e outros shows e festivais rolaram, mas eram poucos.
O HM foi chegando ao Brasil, com dificuldades, mas o underground foi chegando e
os albuns começaram a chegar pouco a pouco e a galera foi crescendo no país.
Em Sampa, as revistas Rock Brigade e a Bizz sobressaíam e
deram mais destaque ao HM e ao thrash metal. Metallica, Slayer, Venom estavam
no radar paulistano e influenciaram os irmãos mineiros Cavalera, do Sepultura,
a maior banda HM brasileira. Angra, da NWOBHM[6],
entre outras, representavam outros cenários. O underground fez a diferença
naquilo que era comercial e ditado pelas grandes gravadoras, com a produção de
bandas como Mamonas Assassinas, Chico Science, RDP, Raimundos, Racionais MCs e
outras. O controle sobre o “sucesso” tinha uma relativa autonomia e não
acontecia somente no mainstream... O mundo analógico antes do chip novo citado
no início, em forma de pílula azul (ou vermelha) não haviam sido tomados,
engolidos. O ódio contra a máquina sobrevivia...
O Metallica criou um caso à parte. Não é somente se vender,
mas conquistar o mundo. Na contracapa do
Ride The Lightning e do Master of Puppets esta declaração é feita. Eles são fodas e sabiam disso. Guns and
Roses, Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, o Grunge, representam também o
underground de Seattle, chegando ao mainstream e vendendo dezenas de milhões de
álbuns, com gigantescos festivais e audiências. Estaria tudo dominado? Por
quem?
E houve uma oferta da indústria cultural, de vender dezenas
de milhões de álbuns, pós Michael Jackson, em uma transição para o toyotismo
para a banda surgida no underground da Bay Area, San Francisco, California. Uma
oferta de transição entre a fase das grandes gravadoras e a nova fase da
indústria cultural. E eles se tornaram
um dos maiores vendedores de álbuns do planeta, do clube dos bilionários. A
família Metallica pertence a um clube seleto de pessoas ricas no planeta Terra.
Santos protetores contra o Napster...
Ficaram conhecidos por centenas de milhões de pessoas, senão
bilhões e entraram no Hall of the Fame, tendo várias vendagens altas
registradas na Billboard. A música “Enter Sandman” bateu mais de um bilhão de
acessos na internet. E é a banda que fez o melhor thrash metal terráqueo, uma
das maiores do heavy metal na história. Agora no Mainstream, como de certa
forma Led, Purple ou Sabbath estiveram, mas não com toda a máquina analógica operando
à frente... A era digital é discreta e eficiente.
Um fenômeno que ocorreu foi o obscurecimento da presença das
gravadoras, conglomerados transnacionais que antes eram os vilões da História.
Lembro da voz do Chappelin, da Globo: “aonde foram, o que fazem, como procedem,
o que ocorre? Fantástico”!
Pois é. Numa conversa com um pós-graduando em Música Popular
na UNICAMP num Bla-bla-Car nos anos 2010, isso forçou a minha queda de fichas.
A internet consegue por impulsionamento ou orientação bloquear a entrada de
novas bandas na rede e orienta por escala para determinadas bandas e dificulta
a existência de um underground ativo. Dá a impressão de que não há nada de novo
na Música, assim como ocorria com o bloqueio das rádios e da mídia antigamente.
Agora isso é feito por impulsionamento digital e que gera nuvens de fãs para um
estilo ou artista. Como a dos tiozinhos do metal, do metal gótico, do pop, do
punk, do funk... São nuvens distintas, até em faixas etárias... E tudo fica
dominado, sem ser percebido pelos fãs, que não se dão conta de que as relações
sociais foram subordinadas à internet e às redes sociais.
Ninguém aparece como autor, protagonista. Simplesmente somem
as alternativas. Só que agora não aparece interventor, a gravadora, a vilã.
Tudo parece natural, espontâneo, como se não houvesse nada de novo surgindo. O
underground virou missão para hacker, cracker e as rotinas mudam
periodicamente, escamoteando novas coisas... Tem que ser um terrorista de rede
para surfar nas ondas de novidades... rs
E tem de reinventar uma organização da produção cultural que
se coloque presencialmente nos antigos locais. As relações sociais têm de ser
reinventadas, talvez retornando com coisas e fazendo surgir novas ondas. O
underground tem de ressurgir e isso implica em sair da zona de conforto. Ou
seja, sair de casa, conversar, trocar fotos, mensagens, ideias, talvez
presencialmente...
Sobre o HM brazuca: existe?
Sim, existe. O HM brazuca é antigo. Desde os anos 1970
surgiram bandas importantes que desbravaram o cenário nacional.
Nos anos 80 isso também não foi pequeno. Teve álbuns feitos
pela loja Baratos Afins (https://www.baratosafins.com.br/produto/sp-metal-sp-metal-2-2022-04-19-12-53-32.html),
da Galeria do Rock, teve shows, etc.
Bandas como Sarcófago (BH, MG), Dorsal Atlântica (Rio), Vulcano
(Santos), Korzus, Performances, Salário Mínimo, podem ser citadas. Angra, com o
vocalista André Matos e Sepultura, com os irmãos Cavalera, são destaques
mundiais. No punk sempre ressalto o Ratos de Porão (RDP), além de várias outras
como o Cólera.
Uma inovação que se deve ressaltar foi a mudança do
Sepultura para um crossover forte com o RDP e, de fato, fazer uma síntese entre
o punk, o hardcore e o HM: um death metal que se torna cada vez mais um metal
que fala do demônio, do macabro e pula para letras críticas, com músicas
influenciadas pelo punk/hardcore e profundamente underground algo que se torna
cada vez mais uma crítica social e com posições progressistas no início dos
anos 90, assim como os Titãs e o Legião Urbana. Cantando em inglês, o Sepultura
transcende o Brasil e chega ao mundo. Como Herbert Vianna, do Paralamas do
Sucesso ressaltou, a banda de thrash metal aparece até em pixações na Escócia.
Os brasileiros exportam HM para o planeta.
Em toda a discografia dos anos 90, os carinhas surgidos de
uma dupla de BH que comprava LPs na Woodstock e circulavam pela Galeria do
Rock, começaram a abordar os problemas brasileiros: fome, miséria, Amazonia,
ditadura militar, etc. E em 1996 façam um album paradigmático: o Roots. Chegam
às raízes brasileiras, gravando músicas com tribo indígena Xavante, com a
música baiana com percussão a la Olodum, com Carlinhos Brown e batidas que já
existiam nos álbuns anteriores, de samba e carnaval. Algo que somente um
brasileiro poderia fazer marca aquilo que somente uma banda/músico daquele país
poderia fazer. Exemplos são comuns, como na França (Gojira), Itália (Lacuna
Coil), Hungria (Ektomorf), Escandinávia (várias), Japão (várias), entre outros.
Uma orientação vetorial para o comércio exterior a ser
seguido por brasileiros até em outras cadeias produtivas... rs Mas isso vamos
discutir em outro artigo... rs
Para os tiozinhos do Metal, o disco parece que está empenado,
rodando em guia fixa, pulando e voltando. São as bandas dos idosos que comandam
o mainstream e aparenta não haver nada de novo. As saudades do underground da
Galeria do Rock, da rua do Hospício (Recife) ficam no imaginário saudosos, sem
renovação. E aquela fala típica dos saudosos: “como era bom no passado, não tem
nada de novo agora, só cópias mal feitas daquilo que tinha no século XX”.
Dentro da nuvem dos tiozinhos não se percebe as outras nuvens existentes e nem
como são as novas armas e ferramentas para conhecer coisas novas. Muitos
ficarão vivendo do passado. Outros poderão se incomodar... e mudar. Mas como?
Enfim... O que fazer?
O universo digital é sempre uma caixinha de surpresas.
Sempre há alguma coisa de impulsionamentos, que levam o Google, Youtube,
Facebook, Instagram, Spotify, entre outros.
A tecnologia tem pelos menos três dimensões: hardware,
software, orgware.
O hardware, como comentado anteriormente era de LPs, K7s, VK7,
rádios, vídeos (clips), shows, canais de TV, entre outros. A partir dos anos
90, entra a internet e nos anos 2000, as redes sociais. E além dos aparelhos de
som, TVs, casas noturnas, shows, tem-se agora o aparelho celular, que serve de
rádio, câmera de fotos/vídeos, internet, redes sociais. O velho Graham Bell foi
pro espaço e se criou uma espécie de computador de mão, versátil e que coloca
as gravadoras (sic) na mão... No futuro você receberá dicas de bandas que você
não conhece, mas gostará e algumas serão de inteligência artificial... kkkk!
O software está entrelaçado com o orgware. São os programas
digitais contidos na internet, nas redes, nos celulares, notebooks, TVs e que
ajudam a coordenar o que, onde e quando se poderá ouvir um som. A gestão é
sempre do fantasma da gravadora, mas há sempre sombras undergrounds que serão
sugeridas. Ou não. Fica ao gosto do headbanger...
O orgware, a organização da produção, é uma questão complexa
Ele é sempre algo que foi muito afetado na transição do analógico para o
digital. O fordismo taylorismo tinha como ideal fazer de um usuário um macaco
amestrado, que separa a concepção da execução, o trabalho intelectual do
manual. O que isso tem a ver? É que o underground da Galeria do Rock tinha mais
interações humanas. Tinha pastas com recortes de membros de bandas, letras,
notícias, tinha fita k7 pirata e contatos de telefones e cartazes de shows ou
de bandas que precisavam de novos integrantes. Isso passou para o universo
digital, mas com menos interação presencial. Esse é o nó crítico do underground:
o que fazer?
[1]
Pânico no sistema alguém me reconfigurou (or something like that...). Pitty,
Admirável Chip Novo.
[2]
Tiozinho do Metal era uma expressão utilizada nas redes sociais (sobretudo
Facebook) para indicar pessoas que gostaram de metal nos anos 1980. Pessoas que
viveram o Rock in Rio, os shows do Kiss, a Galeria do Rock, o início das bandas
Sepultura, Sarcófago, Vulcano, Viper, entre outras. Que vivem a transição do
século XXI na velha guarda dos sons e ficaram parados no tempo, reclamando da
sonzeira atual...
[3] O
objetivo desse texto é fazer algo informal, não tão acadêmico, “tranquilão”.
Contudo, caiu a minha ficha de que “underground” não é debaixo da terra. É
alguém que não é comercial, não toca na rádio, não tem ultra-exposição de
mídia, como ocorria até os anos 90... Dentro do ecossistema underground, há uma
pluralidade de visões entre os de “raiz”, os que são críticos ao mainstream,
àqueles que já foram e conservam algo do passado e os caras que defendem o
mainstream, por assim dizer (tipo as bandas dos tiozinhos e o pop punk, por
exemplo). É uma fauna a ser pensada e classificada num texto sisudo, sério,
acadêmico... rs!
[4]
Grant, Judith. Os garotos interrompidos. O drama do vínculo masculino em
Some Kind of Monster. In Metallica e a Filosofia: um curso intensivo de
cirurgia cerebral. São Paulo, Madras, 2008.
[5] O
visual do Judas Priest, com motos estradeiras, correntes, cordões, braceletes e
adereços de couro e pretos faziam parte do visual daquela banda HM e de certa
forma faziam parte do visu de uma galera LGBT, que não era muito relacionada a
tudo isso. Rob Halford, líder e vocalista da banda, gerou um efeito mais do que
positivo no universo HM ao declarar publicamente sua orientação sexual porque
desfez a posição homofóbica entre os metaleiros, headbangers.
[6] A New Wave of British Heavy Metal ocorreu no cenário britânico do HM. Houve um choque dialético entre as bandas tradicionais, como Black Sabbath, Deep Purple ou Led Zeppelin, o rock progressivo, as bandas dos anos 1960 e o movimento punk. Do debate, da pancadaria, surgiu a Reação: os punks diziam que qualquer um poderia tocar, cantar, fazer letras, não estavam no pedestal. Era o “Do it yourself”, uma espécie da Paulo Freire do Rock... rs E a a NWOBHM (Iron Maiden, Saxon, Judas, entre outros) pregavam a manutenção do Rock e do HM. Dialeticamente, tese (NWOBHM), antítese (punk) e síntese (o que? Thrash?)...
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