foto de Ueslei Marcelino/Reuters
Algo inusitado aconteceu neste final de semana. Uma aliança inesperada ocorreu entre dois grupos distintos: o PSB, do neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos, e a ex-senadora e ex-ministra do governo Lula, Marina Silva.A aliança é inusitada porque era impensável há alguns meses atrás. Marina estava em segundo lugar nas intenções de voto para presidenta em 2014 e Eduardo em quarto, estagnado.
O fato é que a Rede teve a incompetência de não conseguir registrar seu partido a tempo de concorrer para 2014 e ficou sem espaço para a disputa. Sua pré-candidata decidiu pessoalmente a adesão à chapa de Eduardo e a comunicação aconteceu na madrugada do dia 05 de outubro para seu grupo.
Marina Silva é quadro criado dentro do PT, formada por Genoino e Chico Mendes, no antigo Partido Revolucionário Comunista, o PRC e que passou pela Nova Esquerda, PPB (junto com Plínio de Arruda Sampaio, Tarso Genro e tantos outros) e Articulação-CNB. Guarda analogias em sua biografia com as de Lula. De origem pobre, teve sua imagem ligada à do ecologista Chico Mendes e teve sempre forte apoio do PT no Acre e no Brasil.
Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, é muito ligado ao espólio herdado do avô. Arraes, ex-Governador ligado às Ligas Camponesas, à reforma agrária e à distribuição de renda e de água no sertão, foi cassado pela ditadura e retornou pelo PMDB nos anos 1980. Apoiou Lula em 1989 e foi governado por mais duas vezes. Sua força política foi herdada pelo Eduardo, que é conhecido em Pernambuco, onde divide eleitorado com outro pernambucano, o Lula. Porém não é nem de longe o que representa Lula no Nordeste. Desconhecido no centro sul, terá árduo caminho até ser conhecido no Brasil.
O motivo da candidatura de Eduardo seria a disputa de 2018. Desconhecido na maior parte do Brasil, Eduardo Campos precisaria se candidatar para aparecer. E parece lógico e legítimo que o PSB pretenda a presidência, já que governa estados e teve ótimo desempenho em 2010. Sua ligação com empresários descontentes com a coalizão que governa o Brasil, contudo, deixa perguntas no ar sobre os interesses reais de Campos na disputa.
A aliança de Marina com Eduardo busca agregar todos os que se desgarraram dos governos Lula e Dilma por diversos motivos nos últimos 10 anos: disputas de espaços, perdas de poder, brigas pessoais ou mudanças de orientação política.
Sua tentativa é reunir todos os que se encontram na oposição, da esquerda à direita, com o objetivo de derrotar o PT. A declaração dela, de evitar o "chavismo do PT", dá a pista do embroglio. Ela ambiciona com seu gesto agregar PPS, Força Sindical, Cristovam Buarque, DEM, PSDB e até PSOL numa Torre de Babel anti-PT.
A consistência política e de unidade desse bloco é bater no PT. Vale neoudenismo, neoliberalismo, "ambientalismo" (coisa que ela fez de forma "amazônica" no governo Lula, abandonando a Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal...), a plataforma Feliciano (que Serra e parte da igreja pentecostal adora) e, claro, o PIG e parcela do empresariado.
Uma Torre de Babel que consegue se unificar quando tem o PT, mas que não esboça um projeto para o país e cria uma crise de governabilidade devido às fortes contradições internas e à falta de direção para o país. Isso em tese, claro, levando em consideração a trajetória anterior dos atores políticos e não os interesses econômicos implícitos e ocultos...
Afinal, alguém que tem 20% dos votos numa eleição não consegue sequer 500 mil assinaturas para seu partido e ainda por cima ambiciona agregar gregos e troianos merece confiança na gestão de contradições, crises e de diferenças?
Penso que haverá muita emoção na disputa eleitoral de 2014 e um grande perdedor, o PSDB. Porém, o aparente consenso com as realizações de Lula escamotearão o Tea Party que Marina incorporará com face de Ovelha Branca e os interesses empresariais de Eduardo Campos e de privateiros articulados?
Para o bem do Brasil estas contradições latentes, implícitas e subjacentes têm de vir à tona.
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