Hoje acordei me lembrando de Bronstein. O intelectual e
líder político era muito culto, aparentemente muito educado e sedutor na
retórica e na elaboração teórica. Apesar de nunca ter sido do time de suas
forças políticas, admiro boa parte de seus analistas. Por isso, decidi escrever
à moda desse autor hoje. E vou fazê-lo como se fazia até os anos 1980... rs
O modo de produção capitalista é um dos mais poderosos que
já houve na Terra. É verdade que não é o mais longevo e não necessariamente
aquele que modificou mais o panorama, porém sua força está no acúmulo de
experiência dos modos de produção anteriores, em sua sofistificação jurídica e
na capacidade de sobreviver a crises sucessivas utilizando-se de uma tradição
seletiva que articula a pós-modernidade e a barbárie.
A Inglaterra e os EUA foram os grandes países hegemônicos desse modo de produção durante a maior parte desses séculos. Porém, sua flexibilidade interpretativa e
sua resiliência conseguem estar em todos os países do planeta, com civilizações
distintas e que mescla a cultura burguesa às especificidades locais. A
indústria cultural fagocita qualquer coisa que significar o lucro.
A China passa a conviver neste cenário com os EUA, a Europa,
o Japão e outros países desenvolvidos como uma provável superpotência no século
XXI. Seu mercado consumidor, a capacidade de sua força de trabalho e sua
influência passam a ser globais, apesar de sempre ter se comportado como país
oriental.
Neste cenário, o Brasil sempre jogou de forma a entender e
agir sobre essa multipolaridade. O governo Lula investiu no Mercosul nos países
do Hemisfério Sul e nos BRICs. Ampliou sensivelmente o comércio internacional
com esses países e conseguiu diversificar os parceiros comerciais, com o
presidente agindo ativamente nesse processo.
Dilma continuou isso, porém teve problemas derivados da crise econômica mundial de 2008 e acabou por ter dificuldades no relacionamento com os EUA, sobretudo após o escândalo dos Wikileaks, em 2010 e em 2013, com o escândalo de Snowden/NSA. Em 2013, com as manifestações tupiniquins em que acordaram o “gigante adormecido”, as Direitas políticas, a situação defensiva dificultou o cenário de interlocução internacional e colocou em xeque a questão tecnológica, industrial e, principalmente para a Petrobras, empresa que prosperou muito na prospecção e refino de petróleo no mundo.
As dificuldades no relacionamento com os EUA desde então
geraram um desequilíbrio na diplomacia, economia e geopolítica multipolar
desenvolvida pelo Brasil. Os EUA, que já foram nossos principais parceiros
econômicos, perderam peso na América Latina e se encontram em crise. O antigo "quintal" deles foi ocupado por seres que falam russo, hindu, mandarim, português e espanhol, nada mais desagradável para a Águia.
O Brasil passa agora, como país-líder da América Latina e
com uma sociedade de tipo ocidental, a ter responsabilidades econômicas,
políticas e, porque não, ideológicas no sentido do aprofundamento da inclusão
social, produtiva e tecnocientífica na região e no mundo. O porto de Mariel, o
Canal da Nicarágua e a ferrovia que interliga o Brasil ao Pacífico, financiada
pelo Império do Centro, modificam cenários e desagradam interesses.
Evidentemente é risível o papel de parte dessas direitas
numa visão conspirativa da História ou de visões ridículas como aquelas do TFP.
O fato, contudo, é que a América Latina tem tido uma orientação mais
progressista em grande parte dos países da América Portuguesa e Espanhola, com
reflexos negativos para a questão militar, econômica, social e política ianques.
Mesmo o governo Obama tem inflexionado para políticas sociais e reatou com o
governo cubano, com o auxílio do Papa Chico.
Assim, nós progressistas gostamos muito de Marx e houve uma
boa moda de Foucault nos últimos anos. Nós falamos muito disso, mas sempre
associamos poder ao Estado. E o fato, na física, é que existe a energia nas
estrelas e nos elétrons. Na era da nanotecnologia isso se acentua.
A direita mundial predomina no planeta. Ela não precisa mais
ser Chefe de Estado ou de Governo. Suas empresas têm mais PIB do que a maior
parte dos países. Ela disputa hegemonia
no campo cultural e é preponderante no campo tecnocientífico. É muito
interessante perceber que isso foi trazido para a política. Afinal, quem
precisa somente dos velhos líderes e caudilhos latino-americanos? Por que não
atuar no nível molecular, atômico das redes sociais? Por que não articular
cientificamente as pessoas que possuem uma concepção de mundo orgânica e coerente
com o modo de produção capitalista? Afinal, o intelectual orgânico numa
sociedade tecnocientífica não é um indivíduo, mas um ser coletivo. E ele é um
gigante... rs
Neste contexto, as esquerdas precisam se reunir. Espero que
não seja naquele lugar...
E mais, tem de ter uma lógica mais ampla e deixar um pouco
de suas vacilações de lado. Termino o texto falando de uma situação da
conjuntura que me incomodou. Os desdobramentos da Lavajato, já esperados,
levaram ao Cárcere mais uma vez algumas pessoas de esquerda. Recebemos uma
espécie de murro na cara e não respondemos. O vacilo maior é não ter respondido
nada, sequer uma nota lacônica ou uma defenestração. Somente o silêncio e a
falta de noção do que ocorre. Eu não gosto jogar a História no Lixo. Prefiro
enfrentar a realidade com alguma lógica estratégica estruturada. Essa lógica de
salve-se quem puder não me agrada. E hoje não se pode falar de Voldemort.
Mas o que mais me incomoda é que nenhuma ator social relevante tenha se pronunciado. Aquele que não se pode pronunciar o nome esta semana no Tucanistão (apesar de lideranças nacionais terem se pronunciado, inclusive na base) não teve uma declaração lacônica de aplauso à justiça, que ela se aprofunde e que todos sejam investigados, julgados e, eventualmente punidos. Ou uma saída de que todos são inocentes até que se prove o contrário. Até mesmo uma expulsão envergonhada. Nada. Viramos mentirosos, afinal falamos há mais de dez anos que Voldemort é inocente. E como fica isso?
Uma boa semana!
PS: Quase 40 horas depois da Lavajato prender Valdemort e seus "comparsas" e parentes, uma parte dos atores sociais relevantes fizeram um pronunciamento... Será que isso representou um, digamos, titubeio do Comando Maior?
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