sábado, 5 de outubro de 2013

Impressões iniciais sobre a aliança Marina-PSB


foto de Ueslei Marcelino/Reuters
Algo inusitado aconteceu neste final de semana. Uma aliança inesperada ocorreu entre dois grupos distintos: o PSB, do neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos, e a ex-senadora e ex-ministra do governo Lula, Marina Silva.

A aliança é inusitada porque era impensável há alguns meses atrás. Marina estava em segundo lugar nas intenções de voto para presidenta em 2014 e Eduardo em quarto, estagnado.

O fato é que a Rede teve a incompetência de não conseguir registrar seu partido a tempo de concorrer para 2014 e ficou sem espaço para a disputa. Sua pré-candidata decidiu pessoalmente a adesão à chapa de Eduardo e a comunicação aconteceu na madrugada do dia 05 de outubro para seu grupo.

Marina Silva é quadro criado dentro do PT, formada por Genoino e Chico Mendes, no antigo Partido Revolucionário Comunista, o PRC e que passou pela Nova Esquerda, PPB (junto com Plínio de Arruda Sampaio, Tarso Genro e tantos outros) e Articulação-CNB. Guarda analogias em sua biografia com as de Lula. De origem pobre, teve sua imagem ligada à do ecologista Chico Mendes e teve sempre forte apoio do PT no Acre e no Brasil.

Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, é muito ligado ao espólio herdado do avô. Arraes, ex-Governador ligado às Ligas Camponesas, à reforma agrária e à distribuição de renda e de água no sertão, foi cassado pela ditadura e retornou pelo PMDB nos anos 1980. Apoiou Lula em 1989 e foi governado por mais duas vezes. Sua força política foi herdada pelo Eduardo, que é conhecido em Pernambuco, onde divide eleitorado com outro pernambucano, o Lula. Porém não é nem de longe o que representa Lula no Nordeste. Desconhecido no centro sul, terá árduo caminho até ser conhecido no Brasil.

O motivo da candidatura de Eduardo seria a disputa de 2018. Desconhecido na maior parte do Brasil, Eduardo Campos precisaria se candidatar para aparecer. E parece lógico e legítimo que o PSB pretenda a presidência, já que governa estados e teve ótimo desempenho em 2010. Sua ligação com empresários descontentes com a coalizão que governa o Brasil, contudo, deixa perguntas no ar sobre os interesses reais de Campos na disputa.

A aliança de Marina com Eduardo busca agregar todos os que se desgarraram dos governos Lula e Dilma por diversos motivos nos últimos 10 anos: disputas de espaços, perdas de poder, brigas pessoais ou mudanças de orientação política.

Sua tentativa é reunir todos os que se encontram na oposição, da esquerda à direita, com o objetivo de derrotar o PT. A declaração dela, de evitar o "chavismo do PT", dá a pista do embroglio. Ela ambiciona com seu gesto agregar PPS, Força Sindical, Cristovam Buarque, DEM, PSDB e até PSOL numa Torre de Babel anti-PT.

A consistência política e de unidade desse bloco é bater no PT. Vale neoudenismo, neoliberalismo, "ambientalismo" (coisa que ela fez de forma "amazônica" no governo Lula, abandonando a Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal...), a plataforma Feliciano (que Serra e parte da igreja pentecostal adora) e, claro, o PIG e parcela do empresariado.

Uma Torre de Babel que consegue se unificar quando tem o PT, mas que não esboça um projeto para o país e cria uma crise de governabilidade devido às fortes contradições internas e à falta de direção para o país. Isso em tese, claro, levando em consideração a trajetória anterior dos atores políticos e não os interesses econômicos implícitos e ocultos...

Afinal, alguém que tem 20% dos votos numa eleição não consegue sequer 500 mil assinaturas para seu partido e ainda por cima ambiciona agregar gregos e troianos merece confiança na gestão de contradições, crises e de diferenças?

Penso que haverá muita emoção na disputa eleitoral de 2014 e um grande perdedor, o PSDB. Porém, o aparente consenso com as realizações de Lula escamotearão o Tea Party que Marina incorporará com face de Ovelha Branca e os interesses empresariais de Eduardo Campos e de privateiros articulados?

Para o bem do Brasil estas contradições latentes, implícitas e subjacentes têm de vir à tona.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"A engenharia cai sobre as pedras
Um curupira já tem o seu tênis importado
Não conseguimos acompanhar o motor da história
Mas somos batizados pelo batuque
E apreciamos a agricultura celeste
Mas enquanto o mundo explode 
Nós dormimos no silêncio do bairroFechando os olhos e mordendo
os lábios
Sinto vontade de fazer muita coisa...."


Chico Science, "Enquanto o Mundo Explode"

Desindustrialização: alternativas para uma política industrial mais coerente?



O Brasil surpreende o mundo. O nosso aparente caos se junta à criatividade e o taylorismo nunca foi o nosso forte. O ritmo frenético das máquinas nas indústria sempre deu espaço ao "fazer parecer" (making out) dos trabalhadores.
Assim como um fabricante japonês anunciava (os nossos "japoneses" são mais criativos), vivemos em um mundo pós-industrial em que os serviços têm papel destacado no cenário econômico.

Contudo, sempre me incomoda o quanto do mundo industrial ainda nos cabe no latifundio planetário. Será que algum foco na política industrial não poderia ser criado? Um política de inovação, articulando C&T, inclusão social e produtiva e utilizando de nosso mercado consumidor não é possível?

Coréia e Japão fizeram isso bem. Será que isso é possível no Brasil?

Deixo uma notícia postada no UOL Notícias, de autoria de Sílvio Guedes Crespo.

Um bom dia!
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Peso da indústria na economia brasileira volta ao nível de 1955

A indústria tem hoje um peso na economia brasileira tão grande quanto tinha em 1955, antes de Juscelino Kubitschek chegar à Presidência e anunciar seu Plano de Metas para o desenvolvimento do país.

A produção do setor corresponde, atualmente, a 13,3% do PIB (produto interno bruto); em 1955, eram 13,1%, segundo o estudo “Por que reindustrializar o Brasil?”, divulgado nesta quarta-feira (28) pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2013/08/28/peso-da-industria-na-economia-brasileira-volta-ao-nivel-de-1955/

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

UM EXEMPLO NA SUPERAÇÃO DO LINEAR OFERTISMO NA AMÉRICA LATINA: O CASO DA SAÚDE EM CUBA


Há alguns meses, a cadeia produtiva envolvendo medicamentos, máquinas e equipamentos e serviços de saúde vem sendo contestada no Brasil.


Uma série de medidas polêmicas elaboradas pelo Governo Federal, através do Ministério da Saúde, tem sido fortemente contestadas pela categoria médica. Talvez estes profissionais tenham razão, sobretudo no tocante à gestão pública, à falta de recursos materiais e das condições de trabalho em muitas estruturas, circunstâncias e locais. O Sistema Único de Saúde, criado a partir da Constituição de 1988, é universal, porém ainda não contempla de fato todos os cidadãos.


A constatação básica é que a Saúde não funciona bem no Brasil. Apesar de termos uma das dez maiores economias do mundo, o Brasil melhorou seus indicadores sociais básicos, como a mortalidade infantil, a expectativa de vida e muitas doenças tiveram sensível redução ou até foram praticamente erradicadas. Porém há falta de médicos, sobretudo no atendimento primário, medicamentos, emergências e gestão nos locais. 


Uma parcela significativa da população utiliza Planos de Saúde que atendem parcialmente às demandas, com filas crescentes nas consultas, muitas vezes cobrindo parte dos problemas, oferecendo quartos com ar condicionado e TV, porém sem o acompanhamento adequado dos pacientes. O que faz com que a influência cognitiva e estrutural de parte do sistema de saúde com a medicina norteamericana demonstre as mesmas fragilidades daquela. A saúde melhorou no Brasil, mas está aquém das necessidades da população mais desfavorecida e a classe média recebe atendimento cada vez pior.


Uma análise superficial do colunista Marcelo Leite, da Folha de São Paulo no dia de hoje, carrega um certo fundo de verdade. Conversávamos há alguns anos no Departamento em que fiz pós-graduação em C&T, o Departamento de Política Científica e Tecnológica na UNICAMP e tivemos contatos com alguns membros do Ministério de C&T de Cuba. Havia uma constatação na apresentação dos dois modelos nacionais: a mesma política acontecia no Brasil e em Cuba, apesar de diferenças grandes na economia, porte, localização geográfica e na história recente, sobretudo durante a Guerra Fria.


Cuba, assim como o Brasil, não construiu sua política de inovação de forma autônoma, endógena e focada em suas potencialidades. Fez um processo imitativo dos países centrais (Cuba, com URSS e Brasil, com Inglaterra e EUA), não estimulando uma "agregação de valor" ao açúcar, que poderia ter ampliado a produção de álcool combustível e outros subprodutos importantes para a sobrevivência dos cubanos; eles não desenvolveram o suficiente a cadeia produtiva pesca, dado a posição insular caribenha; fizeram um processo de importação de produtos industrializados da URSS, que já não era boa em produtos e serviços, e formaram milhares de engenheiros sem ter fábricas (processo linear ofertista de C&T e Inovação).


Contudo, percebo que as vantagens comparativas foram bem observadas pelo governo, que ao menos no tocante à área da Saúde. Cuba soube conduzir muito bem aquilo que construiu nas últimas décadas: estimular as características positivas e suas vocações para desenvolver vetores de inovação que se tornassem bases para o desenvolvimento econômico e social do país.


O caso da saúde fugiu à regra do linear ofertismo latinoamericano (produzir ciência, desenvolver tecnologias, gerar excedente econômico e daí gerar um desenvolvimento social) ao tornar mais pragmático o caminho entre a formação profissional, as carências e as necessidades e demandas da população local e as oportunidades de trabalho e de serviços em nível mundial. Muito mais do que exportar açúcar, Cuba pode oferecer serviços de saúde em todo o planeta.


Cuba percebeu que a demanda por C&T vinha da imagem real, construída historicamente, de que a Saúde de Cuba é de primeira linha. Priorizou a prevenção, utilizou da precariedade de recursos materiais uma força indutora para formar muitos médicos e ocupou espaços onde a medicina norte americana não queria: periferias, população pobre e miserável, locais onde equipamentos médicos e grandes equipamentos não conseguem chegar.


O fato é que esta "janela de oportunidade" tornou o país dos Castros, uma potência de inovação social em saúde, com capacidade de oferecer a dezenas de países profissionais qualificados em lidar com populações humildes e sem assistência médica, lidando com falta de infraestrutura e reduzindo sensivelmente diversos tipos de mortalidades, sobretudo em países tropicais.


É uma lição até para o Brasil, que tem o linear ofertismo focado ainda nos exemplos dos países "centrais", justamente aqueles que se encontram na maior crise social e econômica em 70 anos. Crise, aliás engendrada por eles mesmos. O Brasil teria de ter uma estratégia de inovação adequada a estes propósitos, de acordo com uma política industrial, de serviços e até do turismo, de acordo com nossos recursos naturais, tecnológicos e de recursos humanos. E claro, da imagem construída pelo país em sua História.



Referências:


Artigo de Marcelo Leite: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1330730-analise-cuba-forma-milhares-de-medicos-como-produto-de-exportacao.shtml


Saúde assina primeiro acordo com a Opas para atrair médicos - 

http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/12773/162/saude-assina-primeiro-acordo-com-a-opas-para-atrair-medicos.html

"Entre 150 países, Brasil tem o maior ganho de bem-estar em 5 anos" - artigo no Valor Econômico, 27 de novembro de 2012.


Renato Dagnino - linear ofertismo e "demand pull"...

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Saúde, corrupção e violência, os males do país são? (SIC)

O Datafolha detectou em pesquisa divulgada no dia 30 de junho de 2013 mudanças sensíveis nas expectativas da população em relação aos problemas brasileiros.

Uma análise superficial dos resultados divulgados sugere que os problemas de violência e segurança perderam espaço para problemas relacionados à saúde e à corrupção.

De fato, esses problemas são relevantes. Estamos em um país que ficou 300 anos como colônia ibérica, com fraco poder de Estado, explorado em suas riquezas naturais e com povoamento feito pela oportunidade de ganhos rápidos, sem risco ou planejamento.

Passamos para uma monarquia por golpe familiar de Estado e assistimos bestializados ao golpe de caserna que levou um marechal a ser presidente de uma "República Café com Leite".

Logo, problemas de violência e de saúde sempre foram e sempre serão relevantes. A corrupção é histórica e endêmica. Ela está retratada desde a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha, passa pelos favorecimentos da Corte a determinados nobres, escravismo, ouro e em exemplos seculares, como a falta de incentivo à inovação (basta ver o exemplo do Barão de Mauá) e à educação em todos os níveis.

Na minha opinião, nosso país é muito complicado.
De fato, a saúde está muito ruim. Precisamos de muito mais médicos, sobretudo no interior do país, nas periferias e tudo mais, a classe média usa pouco o SUS porque cansou de esperar por um atendimento digno e somos empurrados para planos de saúde, cada vez com pior qualidade e mais caros. Agora, isso tem um projeto finalístico (estar com "boa saúde" é ter qualidade de vida apropriada), mas não resolve os problemas desenvolvimento com sustentabilidade e inclusão social e produtiva em si. Poderemos até ter ótimos indicadores na área como Cuba e viver problemas sociais e econômicos em si.


O que me preocupa é que nunca se prioriza de fato a educação neste país. E aí, o elemento portador de futuro não se concretiza porque na alta elite não se prioriza educação (para ganhar $ você não precisa de educação...) e nas classes D e E, a maioria nunca teve acesso à educação de qualidade. Os estratos médios usam escolas particulares no nível básico e intermediário, disputando as universidades públicas no posterior. As universidades privadas têm em sua maioria qualidade questionável, apesar da melhoria do quadro docente e da manutenção das PUCs e de algumas faculdades de alto nível.

Logo, o país capenga em índices de violência, acidentes de trânsito, saúde e corrupção. Ninguém vai às causas, vai somente às consequências dos problemas sociais e econômicos. Os países que mais crescem no mundo atual basearam as suas estratégias de crescimento na educação e na inovação. Japão, Coréia e China investem fortemente em educação, desde o nível básico à pós-graduação, com resultados notórios desde os anos 1970. Honda, Sony, Mitsubishi e Matsushita são exemplos de políticas industriais associadas à priorização da educação pelos cidadãos e pelo país.

A Coréia, outro exemplo da "escola japonesa", ultrapassou o Brasil em indústria naval, tem chaebows como Samsung e Hyundai, tendo iniciado sua explosão econômica a partir dos anos 1980. Um país com menos de 100 milhões de habitantes tem montadoras e indústrias eletroeletrônicas. O Brasil, só montadoras...

A China, o novo e bem sucedido ator que utiliza esta estratégia entra no século XXI com forte exército industrial de reserva, equidade social básica propiciada por décadas de políticas sociais adequadas, crescendo seu PIB entre 5 e 10% a.a. e com forte investimento em educação, infraestrutura e pesquisa e desenvolvimento (P&D). Será que no Brasil ninguém nota isso?

E aí, a população reclama dos políticos, que eles não resolvem os seus problemas. O problema é que o cidadão demanda combate à corrupção e saúde. E poderá ter isso: combate à corrupção, escamoteada por medidas que serão superadas brevemente por corruptores e corruptos (artimanhas da corrupção são dinâmicas e são mais inovativas do que qualquer medida ou ação do Estado); a saúde terá um caminho longo a percorrer nas ações de prevenção, educação e na inovação, além da necessidade da interiorização dela para reduzir pressão nos grandes centros urbanos. Teremos aumento da expectativa de vida e melhoria dos indicadores de saúde. Porém, continuaremos sendo um gigante com pés de barro em um mundo globalizado e tecnologizado.

Assim, se não houver mudanças nas opiniões, a "qualidade total" da sociedade orienta a política (inclusive a pública) para varrer para debaixo do tapete os problemas crônicos e a chover no molhado em medidas de curto prazo.

O gigante acordou do berço esplêndido e continua sem educação...

O link para a notícia do Datafolha: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/06/1303674-para-quase-50-saude-e-o-maior-problema-do-pais.shtml

sexta-feira, 21 de junho de 2013

SOBRE A COPA, OLÍMPIADAS, INVESTIMENTOS E RETORNOS

Desde que eu era criança sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas era uma meta para qualquer país do Mundo, sobretudo para o brasileiro. Os países brigam a tapa para fazê-las. Coreia, Africa do Sul, Espanha e China, entre outros, fizeram eventos desse tipo há poucos anos. Alguns tiveram retorno imediato, outros não. 

O Brasil tem algumas vantagens comparativas: o gigante adormecido tem a Floresta Amazônica, o Pantanal, litoral gigantes, povo multiétnico, multiculutral, um país que é um continente; manifestações culturais belíssimas como o Carnaval, o Maracatu, o Bumba Meu Boi, as Festas Juninas do Nordeste, as Cavalhadas, festas japonesas, italianas, portuguesas; um povo alegre que curte futebol desde que nasce e que ensinou o mundo a jogar bola; 200 milhões de pessoas em ação, com uma classe média que cresceu quase 100% em 10 anos; política de relações internacionais norte-sul e sul-sul, consolidada e que nos garante a falta de conflitos com qualquer país do mundo.

Não vou falar muito do que significa a realização de um evento mundial para os países desenvolvidos porque isso é óbvio: traz taxa de retorno devido à publicidade gerada ao país, amplia turismo, gera demanda por infraestrutura (aeroportos brazucas já crescem a taxas chinesas desde 2003, por exemplo) e tem "spin offs": melhora imagem do país e gera condições mais adequadas para o comércio exterior e a geopolítica como um todo. Na Guerra Fria, por exemplo, URSS e EUA fizeram vários embates nos esportes e que tiveram reflexos na política e na economia mundial.

O Brasil lutou por isso, já sediou Copa, Pan Americano e será importante para ampliar nossos horizontes no mundo. O país cresce continuamente há mais de dez anos, tendo reduzido sensivelmente o desemprego. Cerca de 30 milhões de pessoas saíram da miséria e da pobreza, ampliando o consumo de bens duráveis e construindo bases para avanços sociais mais consistentes. Em meio à pior crise econômica mundial desde 1929 conseguimos atenuar seus efeitos e conseguimos ampliar nosso comércio exterior e nossa diplomacia. Temos condições de dar um passo à frente, aprendendo ao fazer a Copa do Mundo e as Olimpíadas em nosso país.

De fato, há problemas de saúde, educação, cultura, sociais e infraestrutura no Brasil. Problemas seculares advindos de um processo histórico de acumulação de capital predatório, excludente, subserviente aos países centrais, discriminatório e racista. Temos  de melhorar todos os serviços públicos, a proteção ao consumidor, reduzir o spread bancário e preservar o meio ambiente de fato, em todo o país. Isso é pauta para ser resolvida e que teve avanços consideráveis nos últimos anos. Mas precisamos sempre de mais.

Contudo, deve-se ressaltar que há exclusão e problemas sociais nos EUA, Europa e até no Japão (desemprego e pobreza aumentaram na OCDE). E CQD, todos os países do BRICs e vários subdesenvolvidos já sediaram esses eventos. Se seguíssemos o raciocínio "de que o país é nossa casa e que temos primeiro que deixar limpinha e arrumada para podermos sediar eventos desse porte", somente os países escandinavos, e olhe lá, poderiam fazer Copas ou Olimpíadas.

Não acredito que isso seja a panaceia universal. Talvez o investimento direto nas áreas sociais e de infraestrutura, tão criticadas, fosse até mais eficaz. Há uma controvérsia entre políticos, economistas e estudiosos no assunto sobre isso. A questão é que um Estado e seu Governo não podem colocar todos os ovos numa cesta. As políticas públicas exigem uma racionalidade abrangente e matricial em que não se personaliza a gestão. Apesar de preferir construir escolas, hospitais, tecnologias sociais, museus e parques, temos de viver em mundo globalizado articulado e que possui um modo de produção contemporâneo inquestionável em sua infraestrutura e superestrutura.

Porém, a elevação da autoestima brasileira, aliada a uma exposição mundial do país, para muito além do Rio de Janeiro, da Amazonia, do samba e do futebol em si, nos darão uma nova imagem enquanto país, plural, continental, pluriétnico e pluricultural. A possibilidade de termos milhões de terráqueos circulando pelo país, se apaixonando por ele, elogiando-o ou criticando-o, propicia novas relações sociais que podem até colaborar para uma cidadania global, onde resolvendo problemas dos outros resolvemos os nossos. As nossas vantagens comparativas têm de ser expandidas e articuladas às árvores de problemas para que isso um dia se tornem pontos fortes de nossa nação.

Outra questão é que já assumimos o compromisso de fazer os eventos. Uma coisa era ter protestado quando apresentamos as candidaturas. Por que agora que assumimos os compromissos? E se não for no Brasil, o mundo deixa de fazê-los? Afinal, o mundo todo está mergulhado na pior crise econômica desde 1929...

A seguir links sobre estudo que comprova: Copa 2014 trará taxa de retorno acima do investido...

http://www.brasileconomico.com.br/noticias/copa-2014-vai-gerar-r-142-bi-adicionais-para-o-brasil_85540.html

http://fgvprojetos.fgv.br/sites/fgvprojetos.fgv.br/files/922.pdf

http://www.copa2014.gov.br/pt-br