No dia 06 de novembro, tivemos a notícia por todas as mídias que o PIB industrial de São Paulo teve queda na participação nacional. (Clique aqui.) Isso se deve em grande medida à diversificação produtiva do estado, que migra da indústria para o comércio e os serviços. Serviços como aqueles desenvolvidos pelos bancos, Bolsa de Valores, meios de comunicação, educação, saúde, cultura, entre outros. Assim, apesar da crise internacional, das dificuldades inseridas em um processo de desindustrialização e de reposicionamento do setor industrial paulista e brasileiro no mundo, isso não necessariamente é uma péssima notícia. Tudo depende de como o estado assume seu projeto para o século XXI.
Aqui, só para efeito ilustrativo, se encontra um gráfico sobre o crescimento do PIB no Brasil de 1994 a 2014, elaborado por Gomes e Cruz (2014). Não é o foco deste artigo, porém uma análise superficial permite avaliar que o país passou por altos e baixos em sua produção, tendo as crises internacionais impactado severamente nossa economia, como em 1998, 99, 2001 e 2008-9. Pode-se perceber que o primeiro mandato do Governo Dilma teve forte redução do PIB, ainda impactado pela crise mundial de 2008, a pior desde 1929 e que mesmo puxado pelo consumo, pelo aumento da massa salarial e por outras políticas anti-cíclicas, tivemos muita instabilidade no período. Assim como o primeiro governo Lula, que sofreu crise de confiabilidade em 2003, estamos em um momento semelhante, como se observa no gráfico:
Voltando aos dias de hoje, faz mais de um ano que o governo federal tem sido atacado por causa do PIB fraco. E, de fato, há o reflexo da economia internacional, sobretudo a redução do crescimento do PIB chinês, está na ordem do dia. Há problemas internos com o baixo crescimento da indústria, a oscilação das commodities no mercado internacional e a falta de confiança dos empresários para investir, algo que impacta inclusive a taxa de investimento. O "pibinho" é voz corrente na mídia econômica. E isso preocupa nossos melhores economistas de todas as vertentes de pensamento. Não podemos ter desenvolvimento econômico com inclusão social e produtiva sem crescimento via de regra.
São Paulo, terra dos jesuítas, dos bandeirantes, das culturas de cana de açúcar e do café, conseguiu manter um agrobusiness pujante e se tornou no século XX a locomotiva do Brasil. Simbolismo do estado que puxa as outras unidades federativas devido ao desenvolvimento das forças produtivas. Aqui estão os trabalhadores de todo o mundo, o capital, as ferrovias e as condições para que o capitalismo industrial se manifeste em toda a sua plenitude. É esta a expectativa que se traz ao pensarmos em São Paulo, a ex-terra da garoa.
Fiquei intrigado com a falta de informação sobre o PIB do estado de São Paulo sistematizado nos últimos anos. Acredito que o IBGE poderia detalhar esses dados de maneira que possamos fazer estudos e comparações que auxiliem no entendimento da situação atual. E é muito interessante como o próprio dado do PIB 2013 se encontra dificuldades para se obter o dado exato. Na SEADE, a mesma dificuldade, com a falta do PIB estadual em uma série histórica. Há muitos dados fragmentados, o que dificulta a análise fria dos números. Finalmente, achei os valores oficiais, tabulei e produzi os gráficos:
A "farra" das importações e a falta de política industrial gerou desemprego, inflação baixa e uma sensação de que o Brasil crescia, apesar da estagnação. Isso foi rompido em 1999, com a megadesvalorização do real e com o descontrole da inflação, da taxa Selic crescente e a explosão da dívida pública. Coincidentemente, houve maior crescimento econômico além de aumento da geração de empregos formais. A crise da Argentina, em 2001, atinge ainda mais fortemente o Brasil e gera queda de confiança com o futuro. A participação de São Paulo, com indústrias, agrobusiness e setores financeiros, ou seja, polos dinâmicos da economia, chega a 34,6%.
Fiquei intrigado com a falta de informação sobre o PIB do estado de São Paulo sistematizado nos últimos anos. Acredito que o IBGE poderia detalhar esses dados de maneira que possamos fazer estudos e comparações que auxiliem no entendimento da situação atual. E é muito interessante como o próprio dado do PIB 2013 se encontra dificuldades para se obter o dado exato. Na SEADE, a mesma dificuldade, com a falta do PIB estadual em uma série histórica. Há muitos dados fragmentados, o que dificulta a análise fria dos números. Finalmente, achei os valores oficiais, tabulei e produzi os gráficos:
O primeiro trata do crescimento nominal do PIB. Nele, observamos que o crescimento teve várias fases. No governo FHC, pode-se notar que o crescimento do PIB guarda um gradiente de crescimento semelhante no primeiro governo. O congelamento do real em relação ao dólar, o crescimento das importações, as privatizações, entre outras ações, mantiveram o país com crescimento fraco. Entre 1995 e 1998, a participação de São Paulo no PIB cai de 37,3 para 36,1%, refletindo a complacência de Covas à privatização do Banespa, o aumento da guerra fiscal e os efeitos da sobrevalorização do real em uma economia em que o comércio exterior tem forte impacto.
A "farra" das importações e a falta de política industrial gerou desemprego, inflação baixa e uma sensação de que o Brasil crescia, apesar da estagnação. Isso foi rompido em 1999, com a megadesvalorização do real e com o descontrole da inflação, da taxa Selic crescente e a explosão da dívida pública. Coincidentemente, houve maior crescimento econômico além de aumento da geração de empregos formais. A crise da Argentina, em 2001, atinge ainda mais fortemente o Brasil e gera queda de confiança com o futuro. A participação de São Paulo, com indústrias, agrobusiness e setores financeiros, ou seja, polos dinâmicos da economia, chega a 34,6%.
No governo Lula, a transição do neoliberalismo para o novo desenvolvimentismo começa a ter seus efeitos. Após a crise de confiabilidade inicial, o PIB foi fraco em 2003 e cresceu fortemente em 2004, 5,7% a.a. O governo Lula teve um PIB médio de 4% a.a. e apostou no desenvolvimento de todas as regiões, o que foi bom para todos. Isso fez a participação paulista chegar a 33,1%, mas terminou o primeiro governo a 33,9% do Produto Interno Bruto nacional.
Nesta fase uma certa acomodação dessa participação, com o estado crescendo próximo ao ritmo do Brasil para novamente encontrar na crise em 2008, uma queda sensível neste indicador, com 33,1%.
No governo de Dilma Rousseff parece ter havido uma redução sensível da participação do estado no PIB brasileiro. Os efeitos da crise mundial se fazem sentir na indústria, no agrobusiness e no comércio exterior. Além disso, 20 anos de governo do PSDB, com falta de política industrial, agrícola, comercial, de serviços ou de turismo, seguindo a orientação de políticas neoliberais levaram os empresários paulistas a uma crise de confiança na economia.
Deve-se lembrar que durante o governo da presidenta houve tentativa de redução da taxa Selic, buscando a redução do spread bancário e um incentivo ao crédito. Isso parece ter afetado o mercado financeiro e levou a uma forte pressão por mudanças na área econômica. Claro, no sentido do aumento da rentabilidade dos investimentos bancários e na BOVESPA. Deve-se ressaltar que outros setores como propaganda e marketing se ressentiram de quedas de receitas e que o aumento de vagas públicas em escolas técnicas, universidades e nos setores de saúde também foram impactados pela crise econômica mundial e pela crise paulista.
Não se pode afirmar que os dados atuais sejam totalmente confiáveis, dado que houve correção do PIB de 2013 em maio deste ano e não temos dados corrigidos para São Paulo confirmados. Logo, pode ocorrer um ligeiro aumento da parcela na riqueza nacional. Mas a tendência da curva é muito clara: o estado de São Paulo cresce menos que o Brasil e o estado passou a frear o PIB, dado que seu crescimento está abaixo do país há décadas.
Contudo, pode se observar que a taxa do crescimento brasileiro e do crescimento em São Paulo são distintas, tendo maior dinamismo no crescimento brasileiro do que da terra dos bandeirantes. A queda que aproxima a participação paulista em 31% do PIB brasileiro completa 20 anos em se perdeu cerca de 20% dessa participação. Até o final do governo Alckmin é possível que o PIB de São Paulo cai para menos de 30% do PIB brasileiro continuando a curva decrescente.
Contudo, deixo para as pessoas neste gráfico para ser analisado. A tendência é inequívoca: SP está estagnado em relação ao Brasil. A perda de participação no PIBinho pode levar a antiga locomotiva a ser chamada de "Freio do Brasil". A falta de planejamento estatal, como se revela na segurança hídrica, faz com que haja perda de mais indústrias e sobretudo do agrobusiness, tornando essencial mudanças sensíveis no setor para que não percamos ainda mais setores produtivos em nosso estado.
Talvez isso seja uma explicação plausível para o descontentamento dos paulistas com o governo federal. A reeleição de Alckmin em primeiro turno pode estar relacionada à perda do poder paulista, ao aumento do PIB do setor de serviços e à perda da dinâmica na ex-locomotiva, que se torna pós-industrial sem ter um projeto consistente para o futuro. Assim, considero que apesar das responsabilidades municipais e federais nessa situação, têm de ser atribuídas ao governo estadual e ao setor produtivo (bancos, meios de comunicação, serviços de saúde e de educação, entre outros) este pouso suave dos paulistas.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/11/1544102-sp-foi-estado-que-mais-perdeu-presenca-no-pib-em-dez-anos.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1555181-miseria-cresceu-mais-em-sp-que-em-estados-do-nordeste.shtml
Fontes: IBGE, SEADE,
Gomes, Gerson; Cruz, Carlos A. Vinte Anos da Economia Brasileira. Brasília, Centro de Altos Estudos - Brasil Século XXI, CGEE, 2014.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1555181-miseria-cresceu-mais-em-sp-que-em-estados-do-nordeste.shtml
Fontes: IBGE, SEADE,
Gomes, Gerson; Cruz, Carlos A. Vinte Anos da Economia Brasileira. Brasília, Centro de Altos Estudos - Brasil Século XXI, CGEE, 2014.
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