Certamente há muitos ídolos que temos na vida. Alguns permanecem na retina, como o pai, um craque de esportes, políticos ou músicos, pessoas que fizeram a diferença para você ou até para a Humanidade. Em outras, o realismo faz com que percamos a imagem de alguém querido, estimado, que passa a ser comum. Em muitos casos a desilusão dilapida a imagem do "super-herói" e este desaparece sem deixar vestígio.
Este não foi o caso de Cliff Burton. Um sujeito feio, cabeludo, desconhecido, baixista (o que seria isso? Muitos perguntariam... rs) de uma banda obscura, barulhenta e que era cultuada por uma parcela dos fãs de heavy metal, no caso algo que se chamou power metal mas que foi eternizado pela denominação thrash metal. Um tal de Metallica, que comecei a gostar em 1985 e que se tornou uma das minhas prediletas desde então.
Um dia da semana, após uma manhã na escola técnica, fui "bater ponto" numa conhecida loja de Heavy Metal no centro de Sampa, na Rua Dr. Falcão, a legendária "Woodstock Discos", de Walcir Chalas (ver documentário na Netflix). Lá, escrito numa folha de papel de embrulho marrom dizia que o baixista tinha embarcado para outra naquele dia, numa localidade chamada Solnahallen, entre Estocolmo e alguma rota estranha para a Dinamarca... rs Informe de John Zazulla, empresário da Megaforce Records, através de uma lista de contatos com as maiores referências de points de Metal no planeta. Mais preciso e rápido do que os sites na internet para informar que hoje faz 30 anos da morte do cara... rs!
Um colega meu, que não curtia metal, me perguntou: "Você não está triste, está"? Eu disse que não, claro, era durão...rs Claro que estava! Fiquei chocado pelo passamento repentino de um cara que era um ídolo, um dos caras de uma das bandas mais fudidas do planeta e que prometia em sua contracapa que conquistaria o mundo... E que os Caras fizeram mesmo, em 1991, com o Black Album, que vendeu dezenas de milhões de álbuns e se tornou, junto com o Nirvana, as bandas mais poderosas do rock do final do século XX.
Ontem procurei uma página ou algo que se lembrasse dos 30 anos do desencarne dele. Nada... Foi um dia corrido, só agora pude fazer uma busca. E encontrei essa ótima matéria postada em um site de rock que não conhecia (e que me pareceu muito bom), que representa um pouco do sentimento do adolescente e de seu ídolo, morto antes dos fatídicos 27 anos dos rock stars. Um anti-herói, que fazia solos de baixo e calava headbangers ao redor do mundo. Certamente participou em 3 dos 5 grandes albuns do Metallica, além de tributos. Ver Cliff'em All, vídeo tributo a esse grande baixista do rock.
Um cara bacana, mais do que um ídolo!
RIP, Cliff! 27/09/1986-2016
terça-feira, 27 de setembro de 2016
terça-feira, 26 de julho de 2016
SE A PALAVRA É DE PRATA, O SILÊNCIO É DE OURO!
Tem dias que a gente se arrepende de ser espontâneo. Tudo que você fala pode ser e será mal compreendido.
Na fase adulta tudo que você fala pode ser mal interpretado. Por exemplo, você tenta puxar a conversa com uma pessoa nova em uma roda, que não conhece e pergunta: você é da Freguesia do Ó? Nossa, que legal, gosto muito do Frangó (um restaurante fantástico de Sampa), tem pratos fantásticos, etc... Aí outra pessoa da mesa fala: "Ah, eu conheço o dono do Frangó, ele é muito legal"... E daí vem outra para arrematar: "eu não conheço o Frangó, conheço o Frangot, que é de Paris e tem pratos muito melhores, mais elaborados e, claro, muito mais caros do que esse"...
Bom, como preferi conhecer primeiro o Brasil ao invés de sair dele, mesmo quando estava melhor financeiramente e com o dólar a R$2,00 (ferrou!), não conheço nem o Paraguai... rs Nada, sou uma nulidade em nível internacional. E muitos sempre ostentam que foram para Istambul, China, Cairo e, claro, Europa, EUA!!! Blz, parabéns, não tenho esta experiência, mas gosto do que conheço, gosto do Brasil e uso minhas viagens para conhecer novos lugares, pessoas, a História e não uso isso para ostentar, uso isso para assuntar... Queria somente enturmar a pessoa que chegou e abrir um assunto com ela. Só isso.
Daí fui contar uma experiência profissional, que teve erros e acertos e que não deu certo. A pessoa achou que estava me referindo a ela e eu não estava, estava contando um insucesso empreendedor. É uma situação geral que infelizmente impossibilita que aquele projeto desse certo. Na verdade aquela pessoa que é legal somente corrobora que estava nadando contra a corrente, não terá como dar certo... No entanto, ela saiu falando mal, como se estivesse me referindo a ela. Ou que era um nó cego...
Por fim, decorrente dessa segunda, fui falar de um caso desse trabalho, aonde as pessoas começam a seguir o caminho fácil da medicalização e que na precocidade isso pode gerar problemas, de inteligência emocional e até de dependência química. Novamente recebi indiretas.
O meu horóscopo dizia o seguinte para os próximos 15 dias: "A PALAVRA É DE PRATA, O SILÊNCIO É DE OURO".
Por que diabos luto contra o óbvio? Pessoas acima de 20, 30, 40 anos estão sempre armadas, na defensiva ou pior, preparadas para te ofender ou te menosprezar. Qualquer coisa que você fale sempre terá um ataque.
Mesmo amigos são afeitos a serem melhores que os outros, a esnobarem a achincalharem... Por que não aprendo a ser japonês e não fico quieto? Afinal, Sun Tzu e mesmo Cazuza falam isso... rs
O melhor é sempre concordar e nada falar. Assim não levo porrada... rs Pelo menos com algumas pessoas. Mesmo que "amigas"...
quarta-feira, 15 de junho de 2016
Os Dez Mandamentos - A Universal, a disputa de hegemonia e novamente, um Novo Kane: Constantine neles... rs!
Eu já fui noveleiro. Criança, desde sempre, assisti passivamente muitas novelas. A primeira que me marcou foi "O Casarão". Lembrar daquela novela com várias fases de uma família, de um artista visual apaixonado por uma filha do fazendeiro e que faz uma escultura dela nua e era muito marcante. Na verdade, o que mais me marcou foi um velhinho, marido da moça, mexendo uma mistura de esterco numa banheira durante dias, anos, até morrer (crianças! rs). E o amor impossível, típico do romantismo dos séculos XIX e XX, é algo que sempre me estimulou... rs
Buenas, voltando ao presente, diria que fiquei mais de 10 anos sem esse vício. Fiquei longe dos capítulos, daquelas discussões inócuas, da mesmice daqueles capítulos que tem como único objetivo o lucro, além da pessoa perder centenas de horas em algo, banal, manipulativo, que pouco ou nada acrescenta.
Como ando anti-Globo (faz tempo), vi que a Record, propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus, estava oferecendo uma novela diferente, baseada na Bíblia.
Algo aparentemente muito legal. Primeiro, muitas pessoas sabem o que vai acontecer porque está na Bíblia. Sabe dos capítulos mais expressivos, tem um filme que ganhou muitas estatuetas no Oscar e sabe onde termina. Ou seja, você acompanha quando dá... É uma novela flexível, que você não precisa assistir todos os capítulos, mas que você olha os personagens periféricos e não tem compromissos de assistir todo o dia. Uma novela Netflix... rs
Segundo, porque arrebenta a audiência da Globo. Infestada de novelas de mesmices, conservadoras, reacionárias, manipulatórias e cada dia mais mundanas e insalubres, os títulos levaram a líder ao desgaste, ao mundo real e se tornaram pouco atrativas frente ao aumento do conservadorismo (estimulado pelo PIG) e à religiosidade.
Terceiro, a Universal conseguiu estourar a audiência do Jornal Nacional, arrebentou a Globo em 2015 e fez um fenômeno nas novelas, conseguiu um feito raro na história das últimas décadas. Veja aqui.
Quarto, fiquei impressionado com a continuidade do projeto. O filme, lançado no final de 2015, demonstrou uma capacidade de articulação produtiva no cinema, inspirado em Hollywood. Já tinha espectadores fiéis, que assistiriam automaticamente o filme, independentemente da qualidade. Afinal, era uma obra evangelizadora, que mostra a Bíblia em si. E amplia seus fiéis e sua influência...
Quinto, a capacidade de articulação de interesses com o Judaísmo.
Ao tratar do Primeiro Testamento, fica claro que a Igreja Universal tem interesses de médio e longo prazo e que sabe discutir com outros credos. A própria construção de um templo que procura copiar monumentos e templos de Jerusalém abre espaços de interlocução com a raiz judaica-cristã.
Sexto, o lançamento de espetáculo teatral baseado na novela será um sucesso de público. É óbvio, baterá recordes de público e abrirá novos espaços para o teatro no campo ecumênico.Sétimo, a segunda temporada da novela introduz uma nova maneira de trabalhar séries, aproximando-as dos EUA. É raro, senão único, que novelas de primeira linha mudem de ano dessa maneira (exceto Malhação, que é uma escola de atores da Globo...).
Oitavo, após a novela, o jornal da Record posiciona o setor de notícias dentro do PIG, além de enfraquecer o Jornal Nacional. A Igreja Universal ganha peso na TV, além de legitimidade em alguns casos..
Nono, a Record abre um ramo de novelas de época, onde o conservadorismo moral pode se manifestar sem entrar em conflito com temas como machismo, racismo, homofobia e pervasa valores morais para seus fiéis e muito mais gente. Sem gerar ódio, mas por elaboração cognitiva óbvia. Muito mais eficaz que Bolsonaro. Faz isso até com uma espécie de simulacro da "Escrava Isaura", que assisti alguns capítulos quando chego cedo e que gerou até espaços para as mulheres negras. Claro, no século XIX ou anteriores, onde os valores morais são muito mais "rígidos"... #tradiçãoseletiva.
Décimo, depois dessa enrolação toda, digo que a Record/Universal tem um projeto concatenado, lógico, articulado melhor que a Globo de hoje e que pode representar culturalmente um retrocesso civilizacional tão eficaz quanto foi a Globo no século XX. A disputa de hegemonia está aberta no Brasil!
Uma opinião inicial é que precisamos ser como John Constantine: dividir as atenções entre vários demônios para poder sobreviver. Conversa Afiada nos ensina isso. Mas não demonizar como foi a Globo. Afinal, há contradições a serem exploradas entre os dois Satãs... rs
Marcadores:
Dez Mandamentos,
Hegemonia,
PIG,
Record,
Universal
quinta-feira, 12 de maio de 2016
Os taxistas, o Metallica e os ludditas: adianta essa briga com o Uber?
Sou filho de taxista. Boa parte de meus estudos, do conhecimento, do patrimônio material e imaterial que tenho ou conquistei veio em grande parte do trabalho do meu velho em Fuscas, Gols, Classic, das compras de alvará, ponto, dele me ensinando caminhos, rotas, xingando barbeiros... Enfim, vejo com muito bons olhos os trabalhadores dessa insalubre profissão, apesar de serem (ex)malufistas (meu pai, ainda bem, não era... rs). Uma corporação de ofício que viveu intensamente o século XX, do automóvel e agora vive novos desafios.
Há alguns meses, acompanho a controvérsia sobre os aplicativos que estão possibilitando a emergência de novos serviços de transporte para a população. No caso, o aplicativo (APP) em questão atualmente é o Uber. Qualquer um aciona pelo celular o APP e aparece um carro particular, preto, com novos acessórios, água, jornal, etc e pelo que dizem (eu não tomei... rs) é um pouco mais barato do que o serviço convencional de táxi. Tem um atendimento com motoristas com mais educação, até bilingues. É o que dizem...
By Folha SP
A inovação, que já havia chegado aos táxis, com APPs, fones, cooperativas chegou à flexibilidade máxima. Quase qualquer um pode fazer o transporte de passageiros em carros de passeio, de até 7 pessoas.
Taxistas decidiram reagir. Em todo o Brasil e em vários países do mundo há manifestações, locautes, brigas físicas e até quebra de carros suspeitos de estarem ligados ao APP.
By Folha SP
Há uma argumentação por parte dos taxistas contra a precarização das relações de gestão e de trabalho, uma desregulamentação que leva o serviço de transporte de pessoas por carros de passeio para valores menores, com motoristas menos habilitados e com menos itens de segurança, além de não pagar tributos, em um processo caótico de mobilidade urbana, onde o Uber não estaria inserido na matriz de transportes públicos. Ou seja, um processo que na visão dos taxistas é nefasto e os coloca contra a nova tecnologia e a emergência de uma nova categoria profissional, concorrente ou que até pode superá-los, gerando desemprego e insegurança no trabalho e no transporte de pessoas.
Isso é muito semelhante a outra controvérsia surgida no final dos anos 1990 e começo desse milênio. A banda de heavy metal Metallica entrou em confronto contra o software/site Napster, que compartilhava músicas gratuitamente, sem levar em conta os direitos autorais aos artistas, o jabá para as rádios e o $ para a indústria fonográfica, simplesmente atropelava e fornecia música de graça, na faixa.
O grupo se colocou contra a inovação e levou aquela empresa à bancarrota. Claro, não adiantou e surgiram dezenas, centenas de outros softwares e sites que pirateavam músicas. Hoje, a música é virtualmente de graça e o Metallica continua a dar murro em ponta de faca, obstruindo licenças, mas todos os seus álbuns estão na internet... de graça, rs!
A indústria fonográfica foi pro buraco e até há pouco tempo atrás vi uma declaração do guitarrista Kirk Hammet: “agora temos de fazer muitos shows para ganhar algum $”... Isso observo em contradição direta com a história do Metallica, que chegou ao apogeu de centenas de milhões de álbuns vendidos devido à forma de compartilhamento universal de músicas de novas bandas a partir de discos e fitas piratas entre headbangers de plantão... rs!
Indo mais longe na História, encontramos alguns dos trabalhadores que fizeram isso de maneira sistemática por um bom tempo. A emergência da Maquinaria como força produtiva e que substituía dezenas, centenas de homens começa no século XVIII. O movimento consistia em destruir as máquinas que tornavam os homens obsoletos na produção, gerando desemprego em massa. Havia também as sabotagens, greves e muita pancadaria. Eles ficaram conhecidos como Ludditas.
http://www.citeco.fr/10000-years-history-economics/industrial-revolutions/revolt-of-the-luddites-in-the-united-kingdom
Eles são os ancestrais do Metallica e dos taxistas no ódio contra a máquina, a tecnologia. Não preciso dizer que depois de algumas décadas os movimentos de trabalhadores desistiram desse procedimento radical, apesar de voltar a ele em vários outros contextos de revolução técnica e científica, características dos processos cíclicos de inovação no capitalismo.
Adianta isso? Os taxistas acabarão com os APPs? Alguém acredita que esse movimento bravio terá êxito? Se o vereador de São Paulo ficar nu acabará o Uber?
Folha
Lamento afirmar que não adiantará, além de ser ruim para a saúde e para a poluição visual... kkk!
Acredito que botar a boca no trombone, xingar, pressionar é democrático. Só que esse movimento de resistência, de reação é insuficiente em longo prazo. Isso é importante para criar novas legislações e ter novas regulações no curto e médio prazo. É essencial para demarcar que existe um ator social relevante e que quer sobreviver na matriz de mobilidade. Porém, isso é num primeiro momento. E depois disso?
By Folha de São Paulo
A Prefeitura de São Paulo criou um decreto que regulamenta o Uber e os APPs similares. Insere regulamentações e obrigações que tendem a regular um setor que estará cada vez mais dinâmico em mudanças. E isso é inexorável.A questão é que o Uber e os outros APPs vieram atropelando e farão isso de forma sistemática e consistente daqui para frente. Primeiro, derrubando os custos (a bandeirada paulistana é uma das mais caras do Brasil...), melhorando a qualidade e se diversificando, atendendo aos mais diferentes gostos, tendo motoristas poliglotas. O método Toyota, flexível estará disseminado em poucos anos. Pode até haver dumping, porém a tendência é que a rigidez do sistema corporativo dos táxis seja superada em médio prazo.
Os taxistas terão de inovar para sobreviver. Terão de melhorar a qualidade, baixar custos, aumentar opcionais e praticamente virar um Uber. O que não é tão difícil, dado os APPs para táxis já disponíveis, há um processo de qualificação profissional visando o atendimento dos clientes que fará uma seleção dos melhores de acordo com o passar do tempo. Mas terão de apresentar novas proposições e uma nova organização, mais flexível, menos conservadora e que terá de ser tão ágil quanto os outros aplicativos concorrentes. É mudar ou desaparecer. É uma adequação sociotécnica.
sábado, 30 de abril de 2016
196X Reloaded? Cenários possíveis em 2016 - 2018
Estava lendo uma matéria hoje nas redes sociais sobre a proibição de discussões políticas pelo Centro Acadêmico dos Estudantes de Direito da UFMG (ver aqui). Essa é a segunda ocorrência de uma proibição proveniente de juízes de Direito(a) no Brasil.
Lendo uma outra entrevista no Cafezinho do ex-governador e político conservador, Cláudio Lembo (ex-Arena, PFL, DEM e atual PSD), o profissional de Direito lembrou que nos primeiros anos da Ditadura Militar ainda havia livre manifestação das ideias e somente após o AI5 houve o endurecimento do regime. Em 2016, sem impeachment formal de Dilma, já vemos os obscurantistas tomando o exercício ditatorial e tirânico do poder, prometendo retrocessos inimagináveis para uma sociedade complexa como é a brasileira. Estaríamos novamente às portas de uma ditadura, agora civil, orientada pelo Mercado?
O Brasil não é uma República das Bananas, tem mais de 200 milhões de habitantes, está entre as dez maiores economias do mundo, possui recursos naturais, energéticos, sociais, econômicos e culturais relevantes. E apesar de uma plutocracia anacrônica, derivada de exploradores coloniais nefastos, temos setores agrícolas, industriais e de serviços relevantes em nível mundial. Somos o centro estratégico da América Latina. O possível golpe de tipo “paraguaio” que pode ocorrer em nosso país, como o que Lugo sofreu há poucos anos atrás, cria um novo paradigma de intervenção imperialista no mundo.
Incorporamos por muitas décadas aquilo que foi apontado por intelectuais e militantes de vários locais do mundo como uma disputa de hegemonia em sociedades complexas de tipo ocidental. O combate à ditadura nos proporcionou avanços importantes nos direitos civis e políticos, sobretudo na aprovação da Constituição de 1988 e que culminaram em avanços nos direitos sociais, sobretudo a partir dos governos Lula e Dilma.
Como pontua muito bem André Singer, isso não envolveu corações e mentes das mais de 30 milhões de pessoas incorporadas ao mundo do Trabalho, ao consumo e à cidadania concedida. Assim como os avanços sociais e econômicos criados de cima para baixo pelos governos de Getúlio Vargas leva um “tempo até cair a ficha” das pessoas. E um vídeo da Laís Vitória revela que apesar de muitas pessoas que estão recebendo uma casa do programa MCMV se colocarem contra o golpe, elas não conseguem sair para a rua para defender o “seu governo”. A cultura dos bestializados, dos marginalizados, daqueles que assistem os eventos históricos como (tele)espectadores persiste. A transição de classe em si para classe para si ainda não ocorreu.
Considero que hajam dois cenários apontados para um futuro próximo. O primeiro cenário está ligado diretamente àquilo que um filósofo chinês antigo chamaria de cerco e aniquilamento. Envolve o impeachment de Dilma, o uso mais intensivo das mídias, da indústria cultural com autocensura, restrição às redes sociais e internet, uso dos antigos poderes (ex)republicanos para sufocar a pluralidade política e uma intervenção neoliberal para a ocorrência do superlucro para as oligarquias. Isso envolveria o desmantelamento de organizações da sociedade civil e o aniquilamento daquilo que se pode chamar de campo progressista. O apoio crescente ao fascismo por parcela da população rica e de classe média está evidente e no mínimo fica claro nos 8% de intenção de voto para presidente para Bolsonaro. O consentimento de outros setores sociais poderá nos levar ao fascismo neoliberal.
O outro cenário é de forte resistência social e a disputa de hegemonia. É inequívoco que desde 2013 tivemos o fortalecimento da sociedade civil organizada e que ela tem atuado muito mais, por exemplo, do que em 1964. Os movimentos sindical, sem terra e sem teto estão ao lado de movimentos da juventude e culturais, como a blogosfera, o que demonstra uma grande vitalidade para as lutas futuras. Há uma parcela da sociedade contrária ao golpe de Estado e a repercussão internacional é quase unanimemente contrária ao que está ocorrendo. A luta agora é pela sobrevivência, pela manutenção dos direitos conquistados. Mas terá de envolver a disputa da opinião das pessoas e a construção do exercício da cidadania. A lição de casa não foi feita nos últimos anos e isso parece ser essencial para retomarmos a pauta progressista em nível nacional e latino-americano.
Ao que tudo indica, naquilo que tem sido apontado como prioridade pelo bloco golpista (setores financeiros, industriais, meios de comunicação convencionais, setores dos poderes judiciário e parlamentares), a pauta será a retomada do neoliberalismo. Isso envolverá aumento do desemprego, redução do “custo Brasil” (diminuição de impostos, retirada de direitos consagrados na Constituição e da CLT) e privatariação de empresas estatais, além de desregulamentação, de “amarras” ao mercado (Ver os comentários de Juca Kfouri). Isso tudo em meio a um ambiente recessivo. A vidraça tentará aplicar remédios amargos sem aprovação popular e tornando evidente que as denúncias do campo progressista eram verdadeiras.
No primeiro cenário, mesmo com o aparente locaute de alguns setores econômicos, sabe-se que a governabilidade sobre a economia não é simples. Há uma inércia que governa as expectativas e tomadas de decisão para a retomada da economia. A aplicação deste receituário recessivo e de acumulação de capital em uma sociedade crescentemente autoritária pode ser um erro que levará a contradições no bloco conservador em meio a massivas manifestações contra o regime e a política do governo golpista.
No segundo cenário, sabemos que uma eventual derrota dos golpistas no Senado nos levaria a um governo com minoria parlamentar, fraco, com a plutocracia no nosso pé. O terceiro governo Dilma teria de ser aquilo que foi conclamado nas eleições 2014: um governo voltado para o combate ao desemprego, que retome o crescimento econômico através do MCMV, do PAC da agricultura, do crédito e das políticas sociais. Usar o poder de compra do Estado para retomar o comando do país. E preparar a pauta das eleições 2018, que tem de ter a reforma política e a democratização dos meios de comunicação como pontos centrais de uma nova abordagem comunicacional que transcenda este texto chato que você leu até agora... rs
Ainda nesse segundo cenário, mesmo com o impeachment de Dilma, teremos uma mártir e um forte combate ao neoliberalismo e ao fascismo plurireligioso. O ambiente econômico não muda da água para o vinho e teremos muitas greves. As manifestações sociais em uma recessão nos leva para um debate na esfera pública que pode e deve exercitar a contradição entre as oligarquias e o declínio contínuo da importância do PIG pode ser explorado (com ou sem golpe, mídias convencionais estão em franca decadência). Estaremos na ofensiva e com grandes chances de reversão do contexto.
Assim, concluo que a luta social é o melhor caminho e que a democracia continua sendo dominante em nossa sociedade. Nas redes sociais, nos papers, nas ruas, nos ônibus, em qualquer lugar. É usarmos a energia e não entrar em refluxo. Porque a verdade está lá fora, nos arquivos X dos EUA e de países centrais... e eles não estão de brincadeira! Mas me nego a responder positivamente à pergunta inicial porque a maioria da sociedade não é autoritária e o jogo está sendo jogado. A democracia prevalecerá, com governo fraco ou até ilegítimo e reacionário. Teremos arranhões na democracia, mas #nãopassarão!
Marcadores:
2018,
democracia,
Dilma,
Ditadura,
Impeachment
domingo, 6 de março de 2016
Vira-latas não gostam da ética protestante
Josias de Souza e todos os jornalistas do PIG, além dos líderes de direita nesse país demonstram como são distintos de seus pares nos países desenvolvidos.
A elite subserviente da América Latina, ou seja, vira-lata (adoro os cachorros dessa "raça", tenho duas, viu? Infelizmente ainda se xinga eles, rs) não gosta da ética protestante. Ela é patrimonialista.
E isso fica claro no caso do Lula. Como falou nos discursos de sexta feira, após ser preso para ser humilhado e criar condições para um golpe de Estado, ele é um ex-retirante nordestino, com primário completo, curso de torneiro mecânico no Senai (algo incomum nos anos 1960, diga-se de passagem), tornou-se sindicalista na ditadura militar e foi preso por liderar a maior greve ocorrida neste país desde 1917, suponho.
Foi fundador de um partido político, candidato diversas vezes a deputado, governador, presidente e após mais de 20 anos de supostas derrotas, foi eleito presidente da República. Reeleito, ajudou a (re)eleger sua sucessora. Ou seja, Lula é bom, bi-bom, tri-bom.
Lula após sua "prisão"
Isso gera o que a elite branca desse país mais tem, além da indolência e do vira-latismo: a inveja. A incompetência de ter gerido e privatariado tudo o que pôde por 500 anos cria um sentimento de ódio daquele que trabalhou e lutou pelas suas crenças, por sua ideologia e venceu até no campo adversário, da gestão do Estado (capitalista), aperfeiçoando-o, no desenvolvimento econômico com inclusão social e produtiva.
O preconceito, a mesquinhez e tantos outros sentimentos dos "de cima" esconde o processo de vassalagem aos países centrais e a incapacidade até de criar lideranças de direita com vocação e perspectivas para o país, uma das 10 maiores economias do mundo.
Só resta fazer o que Josias de Souza fez em sua nota risível lida por poucos e que não aumentarão seus cachês por palestras... rs E para a oposição golpista, a quem resta mudar de abruptamente de alvo e de tática diante da incompetência de apresentar projeto alternativo ao país. A dependência deles ao NSA fica claro, sem eles nada teria mudado em 2013. Nem a economia...
Referências:
Blog do Josias de Souza:
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2016/03/05/lula-tornou-se-uma-jararaca-criada-numa-bolha/?cmpid=fb-uolnot
Oposição mira em Dilma para evitar 'vitimização' de Lula:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1746871-oposicao-mira-em-dilma-para-evitar-vitimizacao-de-lula.shtml
VOX POPULI: MAIORIA DESAPROVA OPERAÇÃO CONTRA LULA E ACHA QUE MORO ERROU:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/vox-populi-maioria-desaprova-operacao-contra-lula-e-acha-que-moro-errou/
Empresários questionam Moro se prisão de Lula ‘é questão de tempo’http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/empresarios-questionam-moro-se-prisao-de-lula-e-questao-de-tempo/
Marcadores:
América Latina,
Josias de Souza,
Lavajato,
Lula,
Moro,
self made man,
vira-latas
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Pesquisa Nossa São Paulo/IBREM: Percepções
da população frente à cidade de São Paulo. Ou não? Ambivalências retratadas
Ao receber a
pesquisa do IBOPE na semana passada, encomendada pela Rede Nossa São
Paulo, na qual aparecia uma suposta queda da popularidade do prefeito Fernando
Haddad e uma percepção de piora sobre a avaliação da cidade , achei
interessante analisar mais os dados.
Desde 2013
assistimos a fenômenos que envolvem mudanças econômicas, políticas, sociais e
de participação popular no Brasil. Isso já foi discutido em aqui, ali e acolá . Esta pesquisa não trata
disso, porém ela ressalta aspectos desse processo, uma decorrência do
acirramento do debate político na sociedade. As pesquisas pertinentes a estas
questões neste ano, de outros institutos e da Fundação Perseu Abramo, assim
como pesquisas antigas, com Flávio Pierucci, acabam influenciando a minha
percepção sobre os dados atuais.
Decidi
aceitar acriticamente os dados e considerá-los como válidos. Apesar de críticas
metodológicas, eventuais fragilidades e até perturbações nos dados a partir da
forma como foram coletados, decidi analisar os números em si. Nesse sentido, procuro depreender aquilo que
acredito que possa auxiliar para que de fato possamos continuar a mudar a
cidade de São Paulo, mesmo com forte e histórica resistência conservadora.
Fazendo
isso, observo que a cidade continua dividida e com posições extremadas, como se
pode notar em qualquer conversa ou nos conflitos que acontecem no cotidiano. E
uma parcela da população parece chegar próxima a ter problemas de saúde, de
comportamento, desejando até sair da cidade (68%), se tiver essa possibilidade,
para não ter que continuar a perceber mudanças de status quo, de mobilidade
social, cultural e de perspectivas. É o que discuto a seguir. Começo a seguir
com a questão social.
A questão social é considerada como uma ameaça para parcelas da população
A
desigualdade social teve uma queda na
nota de 0,7, cerca de 15% de 2014 a 2015. Isso pode significar que as pessoas
estão querendo mais igualdade social. Houve piora real na qualidade das
relações de trabalho, na renda e há percepção pela população do aumento do
desemprego. Isso afeta a luta pela igualdade básica. Deve-se ressaltar que
houve a redução de 1,5 milhões de empregos formais pelo CAGED no Brasil. Isso
nos retirou do pleno emprego de 2012, contudo estamos muito longe do alto nível
de desemprego e exclusão social dos anos 1990.
Apesar de
todos os indicadores terem melhorado nos últimos 13 anos, a percepção das
pessoas é de que houve piora. Isso pode refletir o aumento do desemprego e uma
insegurança sobre o futuro no trabalho.
Porém, isso
não foi tão drástico a tal ponto de ter uma queda tão intensa. Tudo depende de
como as pessoas interpretam esse dado. Parece indicar o contrário. Ou seja, que
o número de pobres nas ruas aumentou e isso incomoda alguns.
Parcela da
população tem rejeição à igualdade social. Parece haver uma rejeição à presença
de moradores de rua, que aparece na questão de assistência social, na qual há
demanda por mais vagas nas casas de acolhimento e abrigos para a população de
rua.
A educação é
tratada com piora sensível de índices de acesso, serviços ofertados à juventude
e falta de controle das escolas sobre os jovens. A violência da polícia contra
a juventude também é destacada. Destaco que houve consideração de piora do
acesso às universidades, apesar da abertura de mais vagas privadas e públicas.
Parece que o acesso da classe C e o aumento da concorrência possa ser uma das
causas das pioras de avaliação sobre o tema.
Há, de
qualquer maneira, uma percepção de que as famílias não estão cuidando
adequadamente de seus filhos e que houve piora nas condições de trabalho dos
professores. Houve aumento físico e declarado na pesquisa do uso da educação
pública no período, sobretudo creches (página 65).
Apesar do
Programa “De Braços Abertos” estar com altas taxas de permanência de pessoas
trabalhando, se recuperando ou reduzindo os danos, a percepção da presença
dessas pessoas nas ruas é questionada. Os
“nóias” não deveriam ficar nas ruas, tinham de ser expulsos, distanciados,
presos. A política de que a questão social é caso de polícia parece ter
influência neste caso.
A Habitação
reflete contrariedades às políticas habitacionais e de regularização de
favelas. A construção de moradias populares em vários locais, inclusive aqueles
mais próximos de onde as pessoas trabalham parece gerar a redução da nota,
porque tornam visíveis populações que antes se encontravam em situação de
vulnerabilidade social. Deixam claro o descontentamento irreal de falta de
acesso a financiamento para todas as classes sociais (houve piora na questão do
crédito e das taxas de juros, isso é um atenuante desse argumento).
Evidentemente,
cerca de 13 anos de governo federal e 3 anos de governo municipal é pouco para
mudar a situação de problemas tão graves e tão antigos. Há setores que reclamam
de falta de creches, escolas, moradias, assistência social, entre outras
políticas sociais porque em muitos casos ela é insuficiente ou inadequada. Isso
se encontra em regiões que apresentam alta vulnerabilidade social. Este deve
ser outro setor que deve ter reduzido as notas, apesar dos avanços do governo
municipal.
A melhoria
do acesso à educação, saúde, justiça e à distribuição de renda incomodam essa
parcela da população. E a falta de acesso a essas políticas desagrada outra
parte.
Consumo, TI, cultura, lazer
e meio ambiente
Em épocas de
crise, a questão do consumo, da cultura, do lazer e do meio ambiente não
aparecem entre as questões mais importantes pelos entrevistados.
A Tecnologia
de informação (TI) – forte queda, de 0,6 (5,7 para 5,1) – indica que o
entrevistado achava que tinha piorado a situação. Isso corrobora com a
percepção de queda de acesso à internet. Paradoxalmente coincide com a abertura
de Wi-Fis gratuitos pela Prefeitura e um crescente acesso das pessoas aos
smartphones. A ampliação do uso, por exemplo, de agendamento de consultas pela
internet implementado pela Prefeitura parece ampliar o descontentamento e a
demanda reprimida.
Houve aumento
de atividades com amigos, redução de tempo para o lazer e para atividades
esportivas, culturais ou contato com a natureza, apesar de haver novos parques
e áreas de lazer, como a abertura de avenidas nas regiões, como a Avenida
Paulista e em outras 32 vias em todas as subprefeituras de Sampa.
Sobre o meio
ambiente há reclamações da redução das áreas verdes e de sua conservação. Justificam
a redução delas pela falta de contato com a natureza (especulação que faço). Há
uma crítica à falta de campanhas de educação ambiental. Houve percepção de
aumento da poluição na cidade e de abandono dela de forma abrupta no ano de
2015. Reconhecem aumento da coleta seletiva. Revela fragmentação de uma visão
ambiental abrangente, mas desejo de que isso ocorra, apesar da inércia
cultural.
Houve
aumento de uma religiosidade. . Isso é
corroborado pela alta aprovação da instituição Igreja (70%). Esse aumento
parece ter se dado na parcela conservadora, avessa a mudanças comportamentais, à
educação sexual feita pelo Estado e até à tolerância religiosa As políticas de
igualdade social, direitos humanos, entre outras, reforçam uma resistência de setores
religiosos às mudanças culturais e sociais.
A
participação popular é desaprovada. Mesmo com o aumento dos conselhos e de APPs
que acessam serviços municipais há uma sensação de piora. A rejeição aos
políticos e aos governos bate recorde. Isso
pode revelar que setores conservadores da cidade queiram um retrocesso nessas
políticas. Quando dão notas ruins não é porque acham que elas estão
inadequadas. Este setor quer a sua extinção. A percepção de aumento da
corrupção e da desonestidade é muito ressaltada nesta pesquisa, com quedas de
até 30% nas notas de 2014 para 2015. Velho jargão udenista.
As
manifestações sociais que foram intensas, tanto à direita como à esquerda. Parecem
ter sido consideradas ruins por parcela da população. Talvez até porque elas
tenham tido intensidade e representatividade. A frequência com que se praticam
ações voluntárias e comunitárias: queda de 0,4 na nota. Como ressalto na
questão social houve aumento de atividades com amigos, redução de tempo para o
lazer e para atividades esportivas, culturais ou contato com a natureza. O
individualismo e o homogenismo social se exacerbam.
Por outro
lado, é importante ressaltar a cidadania ativa esteve em conflito em 2013, na
luta pelo passe livre. As contradições da cidadania concedida (Vera da Silva
Teles), vividos desde o Governo Lula, parecem ainda guardar resistências e
contradições que enfraqueceram a voz e a articulação de interesses por ora. Haverá
reversão disso, dada as manifestações com crescente participação durante o ano
de 2015. E por outro lado, se observa um refluxo das manifestações das direitas
na cidade. Porém, isso pode ser revertido. O debate político será franco e as
veias abertas.
Mobilidade e luta de
classes
A mobilidade
é uma das questões mais controversas do governo Haddad e que mais avanços teve.
Houve priorização do transporte coletivo, com abertura de corredores e faixas
de ônibus, bilhete único mensal, Ubber, transporte executivo, entre outros. A
redução da velocidade máxima em avenidas e em ruas de grande circulação
reduziram acidentes, assim como a implantação de faixas exclusivas e de
ciclovias na capital paulista.
Na pesquisa
sobre mobilidade pode se destacar que não houve grandes modificações sobre a opinião
sobre a dimensão do metrô. Parece que as pessoas estão parcialmente satisfeitas,
mesmo com a piora das notas (e com aumento de notas 9 e 10, mesmo com as
constantes quebras e atrasos do transporte sobre trilhos). Aí, muito
provavelmente, a opinião daqueles que não usam metrô e estão descontentes com a
ampliação do transporte público tenha tido peso mais ativo do que aqueles que
se beneficiaram dos avanços. É preciso reconhecer que mais de 100 anos de
dominância da cultura do Carro nas sociedades não acaba em 4 anos de governo
municipal.
Além disso,
não podemos deixar de levar em consideração os episódios do Metrô Higienópolis.
Criar mais metrôs significa democratizar a sociedade, ir além do centro
expandido e fazer a periferia ficar perto. A ameaça da igualdade social deve
ser restringida, pelo maior tempo possível...
Parece haver
uma dessincronia entre a melhoria da segurança e da fluidez no trânsito e um
desconforto com a priorização do transporte coletivo. Mesmo com a redução dos
tempos de viagem e de espera dos ônibus por causa dos corredores, as notas
abaixam e mesmo sem aumentos nas tarifas há grande reclamação quanto aos
aumentos... O que reflete de certa maneira as manifestações de 2013.
Há críticas
em relação à circulação de pedestres e a pesquisa não pergunta sobre a questão
do transporte individual. Porém, fica claro que há descontentamento com a
situação das vias e outras reclamações que possam ser feitas, escamoteadas
pelas questões do status quo ou da compulsão pela velocidade e pela
transgressão. E consentida até pelos setores de baixa renda, beneficiados pela
redução sensível nos tempos de viagem no transporte coletivo sobre rodas.
Saúde com baixas
Houve aumento
das preocupações com o tema Saúde. Elas se refletem na necessidade de mais
hospitais, prontos-socorros, marcação de consultas. Há uma percepção de que aumentou o tempo de
espera para consultas e cirurgias, o que é discrepante com a realidade. Houve
melhora na Atenção Básica, atestada pelos próprios pesquisados, porém parece
refletir preocupações com o desemprego, inflação e eventualmente piora dos
serviços de saúde.
Pode ter
relação com a redução das atividades de hospitais e PSs do governo estadual e a
desestruturação de planos de Saúde como a UNIMED Paulistana, porém isso parece
ser marginal. Pode ter sido amenizado devido à abertura de serviços de saúde
municipais e pela absorção de usuários da cooperativa por outros planos de
saúde.
A página 59
retrata que houve aumento do uso do SUS, inclusive em cirurgias, o que revela
um paradoxo que pode ter relação com demandas por melhoria ou simplesmente
contrariedade pelo uso universal de usuários de todas as classes sociais.
A
preocupação com a autoimagem ou percepção da imagem da cidade passa por piora e
pode ter relação com isso. A percepção que tudo está ruim, que a cidade está
suja, abandonada, cheia de “nóias” e, provavelmente de LGBTs, negros e pobres,
presente no discurso corrente das redes sociais, parece estar relacionado a
isso. Destaca-se o aumento do uso de serviços de psiquiatria e saúde mental,
com alto nível de aprovação.
IBREM: conclusões
ambivalentes
Deve-se
destacar o quadro em que as pessoas ponderam o que é mais relevante na vida
delas (página 46). As pesquisas eleitorais sempre colocam as mais importantes:
saúde, (des)emprego, segurança e educação. No caso municipal, a zeladoria
geralmente teria peso também. Neste momento, a questão da saúde é a primeira,
talvez porque a quantidade de pessoas doentes seja maior ou porque se sinta
mais necessidade dela, pelo estresse, demanda reprimida ou até pela depressão
(o SUS em nível municipal distribuiu mais de 200 milhões de antidepressivos no
ano passado).
A baixa
autoestima seria um problema coletivo da cidade, o que gera pessimismo,
insegurança, medo e reduz o consumo e a atividade econômica, colaborando para o
desemprego. A propaganda da crise feita pelos meios de comunicação parece ter
surtido efeito coletivo.
Mas o que
chama mais a atenção são os itens menos relevantes: aparência e estética,
consumo, sexualidade, desigualdade social, transparência e participação
política, tecnologia de informação, esporte, cultura e Assistência Social. São
alguns dos itens em que a prefeitura e o governo federal mais intensificaram
ações nos últimos anos, mas obviamente insuficiente para resolvê-los em curto
prazo.
Assim,
#apesardacrise, o consumo não é preocupação central, assim como esporte ou
cultura. Isso denota que há forte oposição à continuidade dessas políticas e
que os setores conservadores não querem a igualdade social, a participação
popular ou a ampliação da cultura para todos e todas. A falta de priorização da
sexualidade parece ser um problema de saúde, já destacado anteriormente. A
análise SWOT evidencia isso.
O IBREM,
indicador feito pela “Nossa São Paulo”,
teve poucas alterações desde 2013. Teve aumento em 2014 e queda para os mesmos
patamares anteriores. As maiores quedas foram em setores predominantemente
conservadores como o Centro e a Região Norte I. Contudo, deve-se ressaltar que
a região Leste teve queda e é provável que haja além do que ocorreu nas outras
regiões (para o caso da Leste I), um descontentamento sobre a suposta falta de
ações de governo naquela região (Leste e Sul II). Nos outros, os índices se
mantiveram.
Sobre as
Instituições que mais estão contribuindo para melhorar a qualidade de vida,
destacam-se a(s) Igreja, os meios de comunicação, ONGs, Universidades e
Associações de Bairro. Partidos políticos, prefeitura, conselhos
municipais, governos estadual e federal
estão no outro extremo. Retrata uma decepção com a política e a participação
social, além de forte oposição orgânica contrária ao Governo Haddad e o que ele
representa.
Assim, a
pesquisa indica que as prioridades da população devam ser priorizadas. No caso
específico da Saúde parece haver problemas de comunicação com os cidadãos e a
percepção não corresponde ao aumento dos atendimentos e ao incremento de
unidades e serviços. Deve-se ressaltar que, apesar de restrições orçamentárias,
houve avanços na qualidade e na abrangência de atendimento em uma cidade com 12
milhões de habitantes. É a cidade com maior cobertura de atendimento no mundo.
O mesmo vale para Habitação, Mobilidade e
Educação. A questão do emprego depende de ações do Governo Federal e que se
delineiam pela queda da taxa Selic, aumento do crédito para a produção e
incentivo ao emprego. Apesar da falta de governabilidade, ressalta-se que várias
ações, como a criação do Observatório do Trabalho, economia solidária e
Adesampa, com iniciativas para o empreendedorismo, estão presentes desde o início
do governo Haddad e desde 2008, quando se iniciou a pior crise econômica
mundial desde 1928.
Considero
que seria interessante tratar do campo temático “ aparência e estética,
consumo, sexualidade, desigualdade social, transparência e participação
política, tecnologia de informação, esporte, cultura e Assistência Social” como
prioridade. Apesar de ser o menos valorizado, ele tende a ter significância
para o bloco social, auxilia no debate com a sociedade e amplia nossos apoios.
Em termos regionais, as regiões Sul e Leste parecem ser prioritárias para a
continuação das mudanças, assim como setores das regiões norte e oeste.
A pesquisa
do IBOPE/ Nossa SP, certamente, não é o centro de orientação de nada. Pode
estar com erros metodológicos, problemas de abordagem, falta de questões
essenciais, etc. Contudo, alguma coisa que pode ser avaliada neste contexto
controverso, sujeito a trovoadas.
Parabéns, Sampa!
REFERÊNCIA
Pesquisa IBOPE para ONG "Nossa São Paulo" em 25/01/16: http://nossasaopaulo.org.br/portal/arquivos/irbem/irbem2016-resumido.pdf
Marcadores:
2015,
Haddad,
IBREM,
Nossa São Paulo,
Prefeitura,
São Paulo,
Saúde
Assinar:
Postagens (Atom)